Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A participação de mais jovens no Fórum Social Mundial (FSM) é resultado de dez anos de mobilização. Essa é um das conclusões de pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), lançada a pouco mais de uma semana do Fórum Social 10 Anos: Grande Porto Alegre. O evento, que começa segunda-feira (25) na capital gaúcha e em cidades próximas, vai avaliar uma década de encontros.
Com base no fórum realizado no ano passado em Belém, que teve cerca de 150 mil participantes, a pesquisa do Ibase mostra que uma nova geração de ativistas procura espaço no evento, que mudou de perfil na última década. “O FSM caminhou de uma luta contra o neoliberalismo para a discussão de um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável e justo”, diz um dos fundadores do fórum e diretor do Ibase, Cândido Grzybowki.
Para o sociólogo, o perfil dos participantes do FSM está relacionado com essa mudança de foco. “Achávamos que os jovens estavam desinteressados da política. Tiro a conclusão de que não”, afirmou Grzybowki. “O jovem se exprime de forma surpreendente. Fico particularmente contente porque os jovens [do Fórum Social de] Belém eram crianças ou adolescentes quando iniciamos as primeiras edições [em 2001 e 2003 em Porto Alegre] e agora vão nos substituir.”
O levantamento do Ibase entrevistou 2.262 participantes na edição do Pará, dos quais 64% têm entre 14 e 34 anos. Do total, 8% têm mestrado ou doutorado, 34% têm formação superior, 39% ainda não concluíram a faculdade, 15% têm entre 9 e 12 anos de estudo e os demais afirmaram ter até 8 anos de escolaridade. A pesquisa também constatou que 76% participavam do evento pela primeira vez, o que, segundo o texto, é “um indicativo de renovação”.
De acordo com Grzybowki, além da mudança de foco nas discussões, a construção do evento com espaço para trocas culturais e “horizontalidade” também atrai os jovens. “ A geração de hoje é muito avessa a estruturas de representação. Eles querem falar”, afirmou. O reflexo é que 89% dos entrevistados na última edição consideram a diversidade “o ponto forte” do evento.
O trabalho do Ibase também pesquisou o engajamento dos ativistas. Decorrente de uma “visão mais universalista” dos problemas contemporâneos, o levantamento sugere que 20% não se identificam com nenhum movimento específico. Dos demais, 21% defendem questões ambientais, 16% lutam pelos direitos humanos, 11% lidam com ativismo cultural e 10% participam do movimento estudantil.
Para Grzybowki, é natural que os jovens não tenham definido uma área de atuação prioritária ou não estejam engajados em algum movimento da sociedade. “Eles estão sendo jovens. Estão descobrindo suas áreas. A maioria está na universidade ou na escola secundária. É cedo para querer que entrem para um movimento definido. Mas é fato que a participação deles no fórum marca uma posição política”,concluiu.