Um balanço dos 10 anos de existência do Fórum Social Mundial (FSM) marcou, nesta segunda-feira (25), a abertura da edição comemorativa do maior encontro internacional da sociedade civil. Com o tema “Dez anos depois: Desafios e propostas para um outro mundo possível”, o seminário promovido pelo Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo FSM será realizado até sexta-feira (29) em Porto Alegre (RS), cidade que já abrigou três edições do evento.
A proposta do seminário é avaliar os avanços e as fragilidades dos 10 anos do FSM e, principalmente, apontar novos caminhos. Depois uma abertura oficial que contou com a participação de autoridades locais e representantes da sociedade civil do FSM 2009, em Belém, e do FSM 2011, que será em Dacar, os principais idealizadores do encontro marcaram suas posições. As polêmicas sobre a necessidade do FSM protagonizar a defesa de ideias consensuais e a importância da sociedade civil manter a mobilização permanente marcaram as exposições.
Chico Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, começou destacando os princípios que norteiam o FSM desde a sua criação, como a “opção pela auto-organização, a co-responsabilidade, a diversidade, a recusa por ser o ‘movimento dos movimentos’ e a ausência de dirigentes”. Mas admitiu que a proposta do FSM assumir uma postura protagonista e defender bandeiras comuns ganhou força com a crise econômica internacional de 2008.
Para Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo, o grande diferencial do FSM foi proporcionar uma oportunidade para que representantes da sociedade civil possam se unir em torno de objetivos comuns. “A luta não segue em frente se for solitária. E a melhor forma de se fortalecer é estar juntos. Mas essa união tem que ser voluntária, as relações só dão certo quando as prioridades de todos são atendidas. E o FSM oferece a possibilidade que todos se juntem de forma espontânea, livre”, justificou.
Sobre a proposta do FSM assumir bandeiras e protagonizar lutas, Grajew criticou a cultura patriarcal que, segundo ele, “faz com que esperemos sempre que um outro nos mande fazer as coisas”. Para Grajew, é fundamental termos políticas públicas, mas não podemos somente esperar por elas. E completou: “O FSM não é uma entidade, as entidades é que são o FSM”.
Já João Pedro Stédile, do MST, disse ser problemática a falta de avanços e programas propositivos gestados no FSM, bem como a incapacidade de aglutinar mobilizações de massa e de se opor ao avanço do imperialismo. “Apesar da propagação de suas idéias, o FSM não influenciou ou impediu a volta de forças de direita na Europa – ou até em seu próprio berço, a cidade de Porto Alegre e o estado do Rio Grande do Sul -, e com a Crise Global, o capital acabou buscando o fortalecimento dos Estados como âncora de seus interesses, ao contrário do papel que exigem as organizações sociais, de gestão de políticas públicas”, avaliou.
Fazendo uma analogia com o futebol, Stedile avaliou que o FSM é o “vestiário ou a concentração”, mas que o jogo político é decidido em campo. Neste sentido, o Fórum deve ser um espaço onde se definem as táticas a serem adotadas no jogo, tese defendida também por João Felicio, da CUT. Para Felício, o FSM tem que dar um passo a frente no que se refere a ações concretas: “É claro que mais acertamos do que erramos, mas precisamos estabelecer uma plataforma consensual. Não é o caso de criarmos um programa único, mas de pontuarmos os consensos”. Felicio também sugeriu que o FSM leve uma proposta comum na próxima reunião mundial do clima, que será realizada no México, no final do ano.
Muito aplaudido pelas centenas de pessoas que lotaram a Usina do Gasômetro, onde está sendo realizado o seminário internacional, o ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra também participou do balanço de abertura.
Dutra lembrou a primeira edição do Fórum, realizada em 2001, quando ele assumiu o compromisso com os organizadores em sediar o encontro independente das tendências políticas e ideológicas do governo. "Foi possível trabalhar com o Fórum descentralizado nos anos posteriores à primeira edição sem perder a identidade conquistada, ou seja, o espaço do pluripartidarismo e da convivência entre as diferenças. Todos nós temos o que dizer. É no respeito às opiniões e à pluralidade que reside a grande conquista do FSM, mas também o seu maior desafio", disse.
REPORTAGEM: LUANDA NERA