“35% da coleta seletiva acaba no lixo comum” – Folha de S.Paulo

 

Material que o paulistano entrega para ser reciclado não é totalmente aproveitado e vai parar nos aterros sanitários

Desperdício reduz ainda mais a margem de lixo reciclável em SP; coleta seletiva dá conta de menos de 1% de todo o lixo produzido

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa parte do lixo que o paulistano separa, lava e guarda pensando que será reciclado vai parar no aterro, misturado ao lixo comum.

Ontem, a aposentada Ilka Piquet, 73, moradora da Vila Madalena (zona oeste), separava embalagens de vidro, papel e isopor para serem levados pelo caminhão de coleta seletiva.
Mas, por uma sucessão de falhas e de falta de fiscalização por parte da prefeitura, uma parte desse material, em média 35%, não será reaproveitado.

Muitos dos caminhões, por exemplo, fazem uma compactação excessiva do lixo, quebrando vidros e fundindo plásticos -o que impossibilita a separação. Além disso, alguns itens, como embalagens de xampu ou papel de presente, não têm compradores.

Há mais falhas. Ontem, na Vila Madalena, bairro da dona Ilka, o caminhão da coleta seletiva não passou -o lixo foi levado pelo caminhão de lixo comum e, portanto, direto para o aterro.

A concessionária Loga, responsável pela coleta, disse que o veículo de recicláveis saiu da rota prevista. Até o fechamento desta edição, a empresa desconhecia a razão, mas informou que haverá punição administrativa para os funcionários.

Mas, segundo moradores, o caminhão da coleta seletiva não passa por lá desde o início deste ano. "É uma grande sacanagem, o tempo que a gente perde para nada", disse a farmacêutica Cilene Camiloti, 46.

O desperdício reduz ainda mais a margem de lixo reciclável da cidade, que em 2008 foi de 7% do lixo domiciliar passível de reciclagem e menos de 1% do total produzido.

Apenas pouco mais da metade dos paulistanos têm coleta seletiva na porta de casa -os outros 5 milhões precisam transportar o próprio lixo até um posto de coleta.

Na cooperativa de triagem da Vila Leopoldina (zona oeste), o desperdício, segundo a coordenadora Jacy Cardoso, é de 40%. Ela diz que um dos problemas é que as empresas que coletam o material prensam o lixo."Se o caminhão chega muito cheio, com mais de 3,5 toneladas, nem deixo descarregar. As garrafas vêm moídas, o plástico dentro da lata, os papéis destruídos, tudo amassado", diz.

Por falta de compradores, a cooperativa não aproveita, por exemplo, embalagens de xampu, de catchup e de mostarda, papel de presente e potes de gel. Isopores estão há cinco meses empilhados na triagem da Sé (centro) aguardando comprador. Lá, porém, o desperdício é menor, cerca de 18%.

Na da Mooca (zona leste), onde o rejeito chega a 50%, há um amontoado de galões plásticos na mesma situação. Dados do Instituto Pólis, que atua no setor, indicam que 35% do lixo reciclado é desperdiçado.

As 16 centrais de triagem da capital, cooperativas que operam em locais cedidos pelo poder público, são cadastradas pela Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) e recebem a coleta da prefeitura, além do que elas mesmas coletam.

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