Convidados pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e a senadora Marina Silva reuniram uma platéia de mais de 800 pessoas na tarde desta quinta-feira (28), em uma das atividades do Fórum Social Mundial 2010. Sob o tema “Novos Paradigmas do Desenvolvimento”, eles fizeram críticas ao atual modelo de civilização e enfatizaram a necessidade de medirmos outras formas de riqueza, para muito além do PIB.
Para Boaventura, o problema está na própria utilização da palavra “desenvolvimento”. Em sua opinião, uma outra expressão deveria substituir o conceito que, desde os anos 50, vem sendo associado ao capitalismo. “É uma prática desde a Revolução Cubana. Desenvolvimentistas eram – e ainda são – os que se opõem aos não-capitalistas. Por isso, hoje, procuramos aperfeiçoar o conceito transformando-o em ‘desenvolvimento sustentável’. Mas ‘bem viver’, para mim, seria uma expressão mais apropriada”, justificou.
Segundo o sociólogo português, a cultura ocidental ainda não conseguiu designar novos parâmetros de desenvolvimento e um dos motivos é a dominação da sociedade de mercado: “Alguns países – como Uruguai, Bolívia e Equador – não privatizaram o acesso à água. Mas em quase todo o mundo é preciso pagar para ter acesso a esse recurso natural. Quando mercantilizamos tudo, não temos uma economia de mercado, mas uma sociedade de mercado”.
Bastante aplaudida, a senadora Marina Silva iniciou sua apresentação também de forma enfática: ”O atual modelo de civilização está em crise. Não é mais possível remendá-lo. O modelo econômico mostra também o fenômeno da exaustão. E a crise ambiental é exemplificada pelas atuais mudanças climáticas”.
Apesar de concordar que o conceito de desenvolvimento sustentável foi distorcido e até banalizado, Marina Silva defendeu a retomada da proposta original: “Não podemos abandonar nossas ideias em função dos pragmáticos”. A senadora também lembrou a crise financeira que contaminou o mundo em 2008 e criticou a falta de apoio à crise ambiental: “O colapso do sistema financeiro atingiu, desta vez, os que podem, os que sabem, os que têm. Essa é a grande diferença. E só por isso foram liberados trilhões de dólares para tentar reverter o processo. Ao mesmo tempo, muito pouco tem sido feito para minimizar os efeitos das mudanças climáticas”.
Para Marina Silva, os índices do PIB – dos países ou os per capita – já não representam mais a totalidade das aspirações das grandes maiorias da humanidade – e isso se é que alguma vez foram de fato representativos. E citou os indicadores de felicidade e bem viver como a alternativa viável.
Destacando o genocídio dos povos indígenas da América do Sul, a senadora lembrou a presença de cinco milhões de nativos no Brasil no ano 1500. Agora, cinco séculos depois, restam apenas 700 mil pessoas indígenas. Para ela, o atual modelo socioeconômico busca eliminar o diferente. “É preciso mudar a política, mudar o planeta e sempre com um compromisso ético, forjando uma aliança entre as gerações. Tudo que fizermos, agora, vai certamente repercutir nas gerações futuras. Chegamos à era dos limites. É preciso começar a marcha para a transformação”, concluiu.
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