A CoP15 não trouxe o acordo que todas as organizações não governamentais reivindicavam para as negociações internacionais de políticas e ações em mudanças de clima. Mas a mobilização da sociedade trouxe avanços significativos para a forma como a questão das mudanças climáticas será abordada de agora em diante.
Esta foi a principal conclusão do encontro de avaliação da CoP15 realizado na noite do dia 03 de fevereiro, em São Paulo, por iniciativa do Vitae Civilis em parceria com Oxfam, Campanha TicTac, IDEC, PNBE, Movimento Nossa São Paulo, Coletivo do Dia Mundial Sem Carro, SOS Mata Atlântica, ISA, FBOMS e Matilha Cultural. O evento contou com a participação de mais de 120 pessoas, entre representantes de, ONGs sociais e ambientais, de defesa do consumidor, centrais sindicais, associações de empresários, além de jornalistas, estudantes e servidores dos governos estadual e municipal.
“As metas apresentadas pelos países no final de janeiro apontam para um aumento médio da temperatura do planeta em torno de 4 graus centígrados”, alertou Gaines Campbell, especialista em mudanças climáticas do Vitae Civilis e membro da coordenação internacional da Climate Action Network (CAN). “Os documentos enviados à UNFCCC apenas comprovam que não temos um acordo justo, ambicioso nem vinculante”, declarou.
Ao avaliar a mobilização realizada no ano passado para a Cop15, os participantes do encontro reconheceram que as diversas instituições precisam alinhar esforços e compartilhar experiências para ampliar os resultados, mesmo que tenham posições diversas sobre alguns dos temas das negociações. “A experiência com a campanha TicTac foi um primeiro passo nessa direção”, lembra Aron Belinky, coordenador executivo da campanha no Brasil. “E os significativos resultados obtidos corroboram a percepção de que a união faz a força”, completa.
Em menos de seis meses de mobilização, a campanha abriu espaço na agenda do Presidente Lula e do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para apresentar suas reivindicações – algumas das quais figuraram, textualmente, no discurso feito por Lula no último dia da CoP15. O movimento também consolidou um abaixo-assinado com 200 mil adesões no Brasil e mais de 15 milhões no mundo, além promover mais de 600 eventos em todo o Brasil.
“Mas não se trata apenas de uma mobilização das organizações ambientalistas”, destacou Rubens Born, coordenador executivo adjunto do Vitae Civilis que acumulou a coordenação geral da campanha no ano passado. “A experiência da CoP15 mostrou que mudanças climáticas podem ser incorporadas na agenda dos movimentos sociais – dos trabalhadores às comunidades indígenas e quilombolas, passando pelos consumidores e defensores de direitos humanos, pois relacionam-se com dignidade e qualidade de vida, e transição para o desenvolvimento sustentável. O desafio deste ano é constituir uma agenda multifacetada que contribua para evidenciar as relações, muitas vezes ainda não plenamente percebidas, entre clima, desenvolvimento e sociedade”, avalia.
Dentro dessa perspectiva, os participantes apresentaram suas propostas para a mobilização em 2010, que foram do envolvimento da comunidade artística ao maior engajamento das centrais sindicais e movimentos sociais. A necessidade de levar o tema para o debate eleitoral também foi apontada, em função das eleições que ocorrerão este ano.
“Precisamos agora avançar para o planejamento do que pode ser feito até a CoP16. Esse será o foco de nosso próximo encontro, o qual, por sua vez, integrará uma programação de reuniões de avaliação e alinhamento das ONGs que estão envolvidas com a questão das mudanças climáticas”, declarou Percival Maricato, presidente do Conselho Deliberativo do Vitae Civilis.