“Banco Mundial: 90% do aumento da população urbana acontece nos países em desenvolvimento” – Último Segundo

 

Que a população mundial urbana já superou a rural todos já sabem, mas poucos têm se dado conta da velocidade e do local do crescimento populacional: cerca de 90% do avanço da população urbana acontece nos países em desenvolvimento, a uma velocidade de 5 a 10 vezes maior do que ocorreu nas economias industrializadas avançadas. O alerta é de especialistas do Banco Mundial, presentes ao Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas, que ocorre durante esta semana no Rio de Janeiro.

Esse descompasso na velocidade do crescimento população põe o foco dos debates nos participantes dos países em desenvolvimento. São eles que estão no epicentro da atual transformação demográfica global. Uma dificuldade a mais para o desafio urbanístico e habitacional, segundo o diretor-gerente do Banco Mundial, Juan José Daboub. Afinal, é no mundo em desenvolvimento onde está a maior parte da população pobre.

“É preciso pôr os pobres urbanos no mapa”, disse Daboub. Isso significa mais investimentos “para preencher a lacuna no acesso à infraestrutura básica, a serviços sociais e a empregos nas cidades do mundo em desenvolvimento”.

O diretor-gerente do banco defendeu a necessidade de melhorias na gestão. Sua missão no fórum da ONU é, entre outras coisas, encorajar os governos a rever políticas e regulamentações sobre a terra e os mercados de habitação.

Organizado pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU-Habitat), o Fórum Urbano Mundial, maior evento internacional de urbanismo, levou quase 20 mil participantes de 160 países à zona portuária do Rio. São especialistas, gestores públicos, representantes de organizações não-governamentais, parlamentares e profissionais do setor privado, que estarão até sexta-feira discutindo o tema em seminários, oficinas e painéis.

Situações graves

O chinês Guang Zhe Chen, gerente do banco para questões urbanas e de água na América Latina e no Caribe, identifica duas situações graves, que complicam a estratégia urbana para a região: quase 80% de área urbanizada tem alto nível de desigualdade (60% dos pobres vivem em cidades). Chen também citou cinco desafios essenciais: infraestrutura e serviços; gerenciamento de riscos; desastres naturais (vide os terremotos do Haiti e do Chile e os ciclones no Caribe); impacto na (e da) mudança climática; e, por fim, o fato de haver países de necessidades “altamente divergentes”.

Chen e mais dois técnicos do Banco Mundial – a indiana Abha Joshi-Ghani e o americano Stephen Karam – apresentaram no fórum a estratégia da instituição para as cidades, lançada em novembro de 2009. A estratégia se baseia em dois princípios: primeiro, que densidade, aglomeração e proximidade são fundamentais para o progresso humano, a produtividade econômica e a redução das desigualdades sociais. Segundo, que as cidades precisam ser bem administradas e sustentáveis.

Um dos elementos-chave da estratégia é o apoio aos governos locais e o desenvolvimento do que o banco chama de “cidades verdes” – iniciativas destinadas a preparar o espaço urbano para os impactos ambientais do presente e do futuro. “As cidades concentram o consumo e respondem por aproximadamente 75% das emissões de gás causador do efeito estufa”, afirma Guang Zhe Chen.

Brasil

Os técnicos do Banco Mundial citam o Brasil como exemplo tanto das dificuldades quanto das iniciativas para reduzir os problemas urbanos identificados em países em desenvolvimento. As cidades brasileiras enfrentam, por exemplo, o desafio de receber milhões de pessoas pobres, controlar o crime e a violência, melhorar o serviços e limpar o meio ambiente. Para o banco, como um dos países mais urbanizados e uma das maiores economias no mundo, a competitividade e o crescimento do Brasil dependem da capacidade de suas cidades de responder a essas pressões.

“O Brasil é um microcosmo de desafios urbanos e de soluções”, diz Makhtar Diop, diretor do Banco Mundial para o Brasil. Ele cita o sistema de transporte urbano de Curitiba e a lei municipal de mudança climática de São Paulo como “soluções inovadoras e eficientes na gestão urbana”. Ao mesmo tempo, lembra o problema das favelas como “um dos problemas urbanos mais complexos e duradouros”. O Brasil é considerado um dos principais clientes do Banco Mundial. Atualmente há 26 projetos em implantação no País com recursos da instituição.

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