Monotrilho não atenderá demanda da Cidade Tiradentes e do M’Boi Mirim

 

Foto: Airton Goes

 

Esta é a conclusão dos participantes do seminário sobre transporte público realizado na Câmara Municipal de São Paulo, que reivindicam a ampliação do Metrô

O projeto da Prefeitura de construir o monotrilho – sistema de transporte que utiliza veículos leves sobre rodas ou trilhos em vias elevadas – para ligar a Vila Prudente à Cidade Tiradentes foi motivo de muitas criticas no seminário “Transporte Público na Cidade de São Paulo”, realizado nesta segunda-feira (22/3), na Câmara Municipal. A visão predominante entre os participantes é que o modelo, a ser implantado pela primeira vez no município, não atenderá a demanda da população da periferia da Zona Leste. Em contraposição à proposta da administração municipal, eles defendem a ampliação do Metrô.

“O sistema de monotrilho está sendo incorretamente empregado neste projeto”, afirmou Marcos Kiyoto, mestrando em Planejamento Urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que apresentou um estudo comparativo entre o monotrilho e o Metrô. “Os monotrilhos em funcionamento [em outras cidades do mundo] podem transportar até 25 mil pessoas por hora em um único sentido. Já o Metrô pode chegar a 60 mil pessoas.”

Embora reconhecendo que o custo para a implantação do monotrilho seja menor que o do Metrô, Kiyoto avalia que o transporte leve sobre trilhos não é o modelo adequado para alta demanda presente na região. “O mesmo argumento vale para a região do M’Boi Mirim [onde a Prefeitura pretende construir outro monotrilho no lugar do Metrô]. Lá também não atenderá a demanda de passageiros”, complementou.

Para ele, outro problema é a falta de diálogo entre a Prefeitura e a população sobre os projetos de implantação de monotrilho. “É ruim fazer isso da forma que esta sendo feito, sem muito debate e às pressas.”

Wagner Fajardo, dirigente dos Metroviários de São Paulo e da União Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Transporte, também criticou o modelo escolhido pela administração municipal para ser implantado em São Paulo. “O monotrilho é utilizado em locais com menor demanda [de passageiros], em cidades menores”, argumentou, citando como exemplo a cidade de Sevilha, na Espanha.

Já o vereador Netinho de Paula (PCdoB) reconheceu que a população paulistana ainda não tem informações técnicas suficientes para saber se o monotrilho seria bom ou ruim. “Seria um teste para a cidade”, opinou. Ele, entretanto, destacou que o transporte que “a população já sabe que é de boa qualidade e deveria ser ampliado é o Metrô”. 

O parlamentar lembrou que na última campanha eleitoral, o plano de governo apresentado pela atual administração era construir mais Metrô. “Eu não me lembro de eles terem informado às pessoas que votaram neles que iriam fazer monotrilho”, ironizou.

Diversos representantes da sociedade civil se posicionaram contra a implantação do monotrilho e solicitaram a ampliação do debate sobre o tema na cidade. “É importante reproduzir esta discussão nas regiões do Jardim Ângela [M’Boi Mirim] e Cidade Tiradentes, em audiências públicas ou encontros”, propôs Antonio Antonio Pedro de Sousa, da Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo (Facesp.

Projeto no Congresso prevê redução de preço da passagem do transporte público

Durante o seminário, dois debatedores defenderam a necessidade de reduzir o preço da passagem do transporte publico. Marcos Bicalho, da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), sugeriu a medida dentro de um conjunto de propostas para melhorar a mobilidade urbana da população de baixa renda, que inclui a priorização do transporte coletivo, com a ampliação dos corredores de ônibus e do Metrô, e uma política para reduzir os carros e as motos na cidade. “Tem que baixar a tarifa de transporte, que é cara no país”, pontuou.

Bicalho entende que o problema do trânsito na cidade não tem solução no curto prazo. Ele assinala, porém, que as medidas mencionadas só poderão começar a ser implantadas se houver primeiro uma decisão política. “O poder público precisa decidir qual a parcela da população que pretende tirar do trânsito: quem tem carro ou a população que anda de transporte coletivo.”

Outro participante do debate a falar sobre o preço da passagem foi o deputado federal Carlos Zarattini (PT), que informou aos participantes a existência de um projeto de lei no Congresso Nacional, em Brasília, que prevê a redução do custo do transporte coletivo.

A proposta de lei, da qual Zarattini foi relator, já foi aprovada pela Câmara dos Deputados e, agora, está no Senado para ser votada. “O projeto cria um regime especial de tributação para o transporte urbano, isentando toda a cadeia produtiva que envolve o setor dos impostos federais, estaduais e municipais.” Pela explicação do parlamentar, os combustíveis, a energia elétrica, os ônibus e outros equipamentos utilizados para o transporte público não pagariam impostos.

O deputado federal ressalva, entretanto, que para ter direito ao regime especial de tributação, a cidade precisa assinar um convênio que prevê a implantação do bilhete único na região metropolitana (integrando os sistemas) e a redução da tarifa para os passageiros. “Calculamos que o projeto possa reduzir entre 20 e 25% o preço do transporte público em São Paulo”, diz Zarattini.

Veja a integra do projeto de lei que reduz o custo do transporte público 

Segundo os organizadores do seminário – os vereadores Jamil Murad (PCdoB) e João Antonio (PT) –, as secretarias de Transporte municipal e estadual foram convidadas para o evento, porém não compareceram nem enviaram representantes. 

João Antonio (PT) antecipou que o resultado do evento “será transformado numa cartilha como contribuição para melhorar o transporte na cidade”. Murad, por sua vez, sugeriu que a população se organize e “vá às ruas, para defender seu direito a um transporte público de qualidade”.

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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