“Ozônio e fuligem são os vilões do ar” – O Estado de S.Paulo

Relatório ambiental do Estado reforça a culpa do aumento da frota de veículos

Andrea Vialli – O Estadao de S.Paulo

O ozônio e o material particulado (MP) foram os poluentes que mais comprometeram a qualidade do ar no Estado de São Paulo em 2009. Ambos têm origem nas emissões de veículos e estão ligados ao aumento da frota. O ozônio foi o poluente que mais ultrapassou os limites considerados aceitáveis, principalmente na região metropolitana de São Paulo: em 2009, o padrão de qualidade do ar foi violado em 57 dias contra 49 em 2008.

Os dados fazem parte do Relatório de Qualidade Ambiental 2010, publicação produzida pela equipe técnica da Secretaria de Meio Ambiente (SMA) de São Paulo e divulgada ontem. O estudo, anual, apresenta um diagnóstico da qualidade ambiental em todo o Estado e abrange recursos hídricos, uso e ocupação do solo, ar, recursos pesqueiros, biodiversidade e saneamento.

Os números do relatório apontam para a estabilização na concentração média anual de materiais particulados (a popular fuligem). A taxa passou de 39 microgramas por metro cúbico de ar, em 2008, para 34, em 2009, patamar considerado elevado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) trata o material particulado como poluente sem limiar, ou seja, há riscos à saúde em qualquer nível de exposição.

"O grande desafio ambiental de São Paulo são os problemas ligados à metrópole, como qualidade do ar, saneamento, lixo e drenagem urbana", diz Casemiro Tércio Carvalho, coordenador de Planejamento Ambiental da SMA. Segundo ele, houve melhoria na qualidade do ar no interior, reflexo da redução das queimadas nos canaviais.

No entanto, a qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo continua preocupante. "Além do crescimento da frota de veículos há o agravante de que o nosso diesel ainda é um dos mais poluentes do mundo, com alto teor de enxofre", diz Carvalho.

Há alguns anos, o ozônio é o poluente que mais preocupa especialistas e autoridades em São Paulo. Ele é chamado de poluente secundário por ser formado a partir de reações entre óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, emitidos pelos escapamentos dos veículos, na presença de luz solar. Por sua formação estar relacionada a outros compostos e depender de condições meteorológicas, seu controle é muito difícil.

No ano passado, foram observados picos de concentração de ozônio mesmo em feriados prolongados e fins de semana, quando a circulação de automóveis é inferior à dos dias úteis.

"Não teremos controle dos níveis de ozônio enquanto a cidade de São Paulo colocar mil novos carros nas ruas todos os dias", afirma Ricardo Abramovay, professor do Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, os dados do relatório da SMA permitirão o planejamento das políticas públicas nos próximos anos. "Elas terão de passar necessariamente pela melhoria dos sistemas de transporte coletivo", diz.

Frustração. Para o médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, isso parece longe de acontecer. "A questão do ozônio não tem remédio", resume.

"Essa é uma grande frustração. As políticas públicas caminham no sentido de priorizar o transporte individual e o governo incentivou isso, dando redução de impostos para a compra de automóveis", diz Saldiva. Segundo eles, cidades como Santiago e Bogotá conseguiram estabilizar os níveis de ozônio com investimentos maciços em melhoria do transporte coletivo.

Sem remédio

CASEMIRO CARVALHO COORDENADOR DA SMA
"O grande desafio ambiental de São Paulo são os problemas ligados à metrópole, como qualidade do ar, saneamento, lixo e drenagem urbana."

PAULO SALDIVA MÉDICO DA USP
"A questão do ozônio não tem remédio."

"As políticas públicas caminham no sentido de priorizar o transporte individual
e o governo incentivou isso, dando redução de impostos na compra de automóveis."

GLOSSÁRIO

Ozônio
O ozônio encontrado na faixa de ar próxima ao solo, onde respiramos, é tóxico. O poluente resulta das reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis (que saem dos escapamentos dos veículos), na presença da luz solar. Só na estratosfera (a cerca de 25 km de altitude) o ozônio tem a função de proteger a Terra de raio ultravioleta emitido pelo Sol, funcionando como um filtro.

Material particulado
Também conhecido como fuligem, são as partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar. Em São Paulo, a maior parte vem das emissões dos veículos. As partículas de maior interesse para a saúde pública são as inaláveis, ou seja, aquelas que têm poder de penetração maior que 50% no trato respiratório médio e inferior. Causam irritação nos olhos e garganta e reduzem a resistência às infecções.

 

 

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