“Propaganda do choque” – Folha de S.Paulo

 

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

SE o governo quer reduzir acidentes de trânsito, deveria mostrar por meio de imagens o resultado dos desastres: mortes, corpos estilhaçados, amputações, famílias destroçadas. Seria uma espécie de "Desastres da Guerra" pós-moderno, para evocar a série de Goya sobre a campanha de Napoleão na Espanha do século 19.

Mostrar carros destroçados por acidentes na beira de estradas e avenidas, como se faz na Europa e nos Estados Unidos, já seria um bom começo.

Isso tudo é desagradável, mas funciona. Basta comparar os resultados das imagens estampadas nos maços de cigarro com a mensagem escrita nas garrafas de bebida alcoólica.

As fotos e ilustrações com os efeitos do fumo ajudaram o Brasil a reduzir o consumo de cigarro. Em 19 anos, o percentual de fumantes caiu praticamente à metade. Em 1989, 32,4% da população acima de 15 anos fumava. Em 2008, o índice havia caído para 17,2%, segundo dados do IBGE.

A queda, de 47%, uma das maiores do mundo, foi resultado não só das imagens, é óbvio. Houve o veto à publicidade e um pequeno aumento de impostos há dois anos. Especialistas como Tania Cavalcanti, que coordena o programa antitabagista do Inca (Instituto Nacional de Câncer), diz que as imagens nos maços serviram para universalizar a ideia de que fumo faz mal.

Outro resultado
Com o álcool, ocorreu o fenômeno completamente diverso. A publicidade é livre, as empresas usam e abusam de adolescentes (e a onipresente associação com sexo) e a única contrapropaganda é uma frase em letras minúsculas no rótulo. O resultado é que o consumo de cerveja, sobretudo, não para de aumentar e, junto com ela, a pilha de mortos.

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