“Metrô valoriza bairros e número de moradores diminui” – Jornal da Tarde

 

Estudo mostra que chegada das linhas causa aumento no valor dos imóveis e população antiga, que não consegue manter o padrão, vai embora. Novos moradores ocupam unidades maiores, reduzindo a densidade populacional

MARIANA LENHARO, Especial para o JT

As áreas próximas das linhas do Metrô de São Paulo estão passando por um fenômeno urbano que desafia o senso comum: a diminuição populacional.

Essa modalidade de transporte, uma das mais eficientes, provoca uma valorização excessiva das regiões que atravessa. Com o tempo, os moradores originais acabam indo embora porque não conseguem manter o nível de vida, abrindo caminho para a chegada de pessoas com poder aquisitivo maior. Os novos habitantes têm moradias mais espaçosas, o que faz com que o mesmo espaço passe a abrigar menos pessoas.

Essa dinâmica populacional é uma das conclusões do estudo Distribuição da população na Região Metropolitana de São Paulo, do engenheiro Carlos Eduardo de Paiva Cardoso. Publicado na Revista Engenharia, em dezembro de 2009, o estudo comparou as Pesquisas Origem-Destino do Metrô de 1997 e 2007.

“O fato de o Metrô de São Paulo ser composto de poucas linhas permitiu ao mercado aferir altos lucros através de lançamentos imobiliários”, diz a pesquisa. Cardoso, que é mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP e doutor em serviço social pela PUC-SP, trabalha como analista de sistema e de planejamento de tráfego e transporte na CET. “Através de lançamentos imobiliários de padrão elevado, temos a substituição de populações de menor poder aquisitivo por classes mais abastadas”, diz o estudo. “Estas novas populações têm um padrão de ocupação menos denso do solo urbano, o que implica menor densidade populacional.”

Já se percebe o fenômeno nos imóveis próximos da Linha 4-Amarela, em fase final de construção: apartamentos próximos da Estação Faria Lima (em Pinheiros) dobraram de preço antes mesmo da inauguração da linha.

Na Barra Funda, onde o Metrô foi inaugurado em 1988, é nítida a chegada de moradores mais ricos, acompanhando a maré dos lançamentos imobiliários. Os antigos sofrem cada vez mais para pagar as contas e acabam se mudando. “Estamos vivendo num bairro de classe média, mas o bolso continua sendo de pobre”, afirma o advogado Edivaldo Godoy, que mora na Barra Funda há 36 anos.

O processo de substituição dos moradores originais de um bairro por famílias mais abastadas é chamado de gentrificação, diz a arquiteta Denise Antonucci Capelo, do Mackenzie. Para o urbanista João Valente, a valorização de áreas com boa oferta de transporte público é natural. Mas, se ocorrer em excesso, acaba “elitizando” as regiões que dispõem de Metrô, refletindo a escassez desse serviço.

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