Marca é a terceira pior dos últimos dez anos, segundo medições feitas pela Cetesb; especialistas veem risco maior à saúde
Mais veículos nas ruas, principalmente picapes, pequenos caminhões e vans são o principal motivo; Cetesb relativiza problema
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A qualidade do ar em algumas regiões da Grande São Paulo piorou nos três primeiros meses do ano por causa do ozônio -poluente causado principalmente pela queima de combustível. Pela medição da Cetesb (agência ambiental paulista), o ar só foi considerado "bom" em 17 dos 90 dias analisados.
Nos outros 73 dias do trimestre, a qualidade do ar oscilou entre má, inadequada ou regular -o que, segundo especialistas, coloca em risco a saúde da população, já que pode causar tosse seca, ardência dos olhos, cansaço e falta de ar. Os primeiros a serem afetados são idosos, crianças e pessoas com doenças cardíacas e respiratórias.
A marca, a terceira pior dos últimos dez anos, acendeu o sinal de alerta entre os ambientalistas, já que, desde 2006, a poluição por ozônio estava mais baixa. No primeiro trimestre do ano passado, por exemplo, a qualidade do ar só não foi considerada boa em 67 dos 90 dias.
Especialista em poluição atmosférica na USP, Paulo Artaxo afirma que, para que a saúde da população esteja protegida dos poluentes atmosféricos, "a classificação da Cetesb tem que estar dentro do nível "bom’". "Não somente os grupos mais sensíveis sentem efeitos [na saúde] nestes níveis de poluição, mas toda a população está sofrendo", diz Artaxo.
O ozônio é um gás tóxico que se forma principalmente a partir da queima de combustíveis. Ele não sai direto dos escapamentos, mas compostos com nitrogênio e oxigênio, lançados pelos motores dos carros, ajudam a formar o gás após reagirem com a luz solar. As altas temperaturas, típicas do verão e da primavera, são importantes agentes no aumento dos níveis de ozônio no ar.
No caso da Grande SP, entretanto, a questão natural é só parte da explicação, diz Artaxo. "Uma das razões da subida das concentrações de ozônio é o aumento da frota automotiva na capital." Para ele, medidas como a inspeção veicular, "que começou atrasada em pelo menos dez anos", não estão servindo para limpar o ar.
A Cetesb, entretanto, apesar de admitir que o ozônio não está sob controle, relativiza o problema.
Mas Alfred Szwarc, também especialista em poluição do ar, concorda com Artaxo. "Embora as emissões dos veículos leves estejam controladas [além da inspeção, há mais de dez anos existem novas tecnologias sendo implementadas], observamos um grande crescimento no tráfego de motos e de veículos médios movidos a diesel, como vans, picapes e pequenos caminhões de entrega."
Szwarc também diz ser contra o projeto de lei em discussão no Congresso que libera carros movidos a diesel no país. "Do ponto de vista ambiental, essa medida seria uma volta ao passado." Segundo ele, os carros a diesel feitos hoje no país são poluidores e barulhentos.
Para a SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), os carros a diesel são importantes, do ponto de vista ambiental e econômico.
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