Ana Bizzotto, Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta – O Estado de S.Paulo
Na área da Subprefeitura da Vila Mariana, onde vivem 2,7% dos 11 milhões de paulistanos, estão 24% dos contêineres de coleta seletiva da cidade. A região compreende os bairros de Moema, Saúde e Vila Mariana. Em seguida, vem a Subprefeitura de Pinheiros, formada por Pinheiros, Alto de Pinheiros, Itaim-Bibi e Jardim Paulista. Juntas, as duas Subprefeituras detêm 33% dos 5.118 contêineres da cidade.
Mais do que bons exemplos, esses números refletem o quanto o programa municipal de reciclagem – que comemora 20 anos de existência em 2010 – está concentrado nos bairros nobres do centro expandido. E, apesar de chegar a quase 80% dos 96 distritos, tem distribuição muito desigual. Atrás de Vila Mariana e Pinheiros, vêm as Subprefeituras da Sé e da Lapa.
Os contêineres são usados para a coleta de lixos em condomínios, parques e prédios públicos. Espalhados por bairros, formam, segundo as empresas que fazem a coleta de lixo em São Paulo, uma amostra do mapa da coleta seletiva na cidade. E complementam a coleta porta a porta, que retira diretamente das ruas os sacos de lixo reciclável.
"A eficiência do programa depende da sua abrangência. Mesmo que a Prefeitura diga que a coleta seletiva atinge 74 dos 96 distritos da cidade, isso não significa que os caminhões passem por todos os domicílios dessas áreas", diz Elisabeth Grimberg, coordenadora executiva do Instituto Pólis.
A meta definida por lei em 2003 apontava que toda a capital já deveria ser abrangida pela reciclagem desde o fim de 2007. Em março, uma decisão da 8.ª Vara da Fazenda Pública determinou que sejam instaladas centrais de triagem nas 31 Subprefeituras até o fim deste ano. O governo vai recorrer da decisão e diz que a meta será alcançada até 2012.
Nos bairros mais afastados, a coleta seletiva ainda é tímida. Mesmo em regiões que nos últimos anos se tornaram alvo do mercado imobiliário e das operações urbanas lançadas pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Apesar de ter ganhado 23 novos condomínios só nos últimos 15 meses, Itaquera, na zona leste, por exemplo, tem apenas 41 contêineres, incluindo os que estão em pontos comerciais e em vias públicas. Do outro lado de São Paulo, em Cidade Ademar, zona sul, a verticalização chegou com a construção de 13 prédios apenas no ano passado, mas são 49 equipamentos para depósito de lixo reciclável.
Região considerada a vedete dos construtores e desejada pela classe média emergente, a Penha, na zona leste, onde foram lançados 300 empreendimentos só no primeiro trimestre, tem 129 contêineres. A pior situação ocorre na região do Socorro, área da zona sul que registra um processo avançado de verticalização. Lá não existe sequer um contêiner de coleta seletiva.
Iniciativa. Dezenas de moradores de prédios já usam as próprias experiências para difundir a reciclagem. Quando voltou de um intercâmbio em Londres em 1998, a filha da advogada aposentada Dalva Santana, de 62 anos, trouxe a ideia que mudou para sempre a maneira de a família lidar com o lixo doméstico. A coleta seletiva, naquela época já difundida na Inglaterra, foi aceita.
"É uma questão de hábito. Depois que você começa a fazer, é viciante. Até meu netinho de 3 anos já sabe separar o reciclável", diz Dalva. No prédio onde a família morava naquele tempo, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, a coleta era feita. Mas quando se mudou para outro edifício do bairro, há cinco anos, eles tiveram de se esforçar para convencer os moradores a aderirem à iniciativa. Enquanto não conseguia, Dalva deixava o material no mercado.
Há dois anos, Dalva persuadiu o síndico a reservar um cômodo do prédio para armazenar os recicláveis e ligou para a concessionária que faz a coleta porta a porta. Todas as sextas-feiras, funcionários da limpeza do prédio levam o material para o portão da garagem, onde a coleta é feita. "Mas tem muita gente que ainda faz errado, mistura lixo seco com orgânico. Dá trabalho e até todo mundo se acostumar é complicado."
Destino. Apesar do empenho, ela não sabe para onde o material é levado. "O que é feito e como ele está sendo aproveitado eu não sei. Tem gente que duvida que seja realmente reciclado", diz a advogada aposentada.
Segundo a concessionária Loga, o lixo coletado em Perdizes é encaminhado para as centrais de triagem de acordo com a demanda. Na sexta-feira, o lixo de Dalva foi levado à Coopere-Centro, uma das 16 entidades conveniadas à Prefeitura.
"A reciclagem poderia tirar pessoas da rua" – O Estado de S.Paulo