Após 20 anos, o sistema de coleta seletiva da Prefeitura reutiliza só uma garrafa PET por habitante por semana
Ana Bizzotto, Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO – Depois de 20 anos, o sistema de coleta seletiva de lixo da Prefeitura consegue reciclar, em média, apenas 280 gramas por mês por habitante, o que significa que o paulistano só manda para a reciclagem peso correspondente a uma garrafa PET a cada seis dias. O total representa 1% de todo o lixo produzido na cidade.
A população de Porto Alegre, cujo programa de reciclagem é considerado modelo, consegue separar para reciclagem 1,3 quilo por mês por habitante – quase cinco vezes o índice de São Paulo. Em Estocolmo, na Suécia, referência mundial no processo de coleta seletiva, 25% do lixo é reciclado. Cada habitante da capital sueca recicla em média 12,4 quilos por mês – 44 vezes mais do que o paulistano.
"Faltam incentivo e investimento na organização das cooperativas e na capacitação de catadores para que o programa seja ampliado. Nessas duas décadas, a coleta seletiva ainda é algo a que só a classe média paulistana tem acesso. Os municípios precisam encarar a reciclagem como uma política pública fundamental para reduzir os riscos de enchentes e o espaço dos aterros", diz o advogado Fabio Pierdomenico, professor de Direito Ambiental e diretor da Limpurb entre 2002 e 2004.
Nos últimos três anos, os investimentos em coleta seletiva se mantiveram proporcionalmente estagnados. Em seu primeiro ano como prefeito, em 2006, Gilberto Kassab (DEM) aplicou 1,21% da verba empenhada para a coleta do lixo em reciclagem; em 2009 esse índice foi de 1,14%.
A falta de investimentos em reciclagem nas diversas fases do sistema explica por que o processo não vai para a frente. De acordo com a política municipal do setor, criada por lei em 2003, deveriam ser construídas 31 centrais de triagem em todas as subprefeituras em 2007. As obras estavam previstas no novo contrato de coleta de lixo, que entrou em vigor em 2005. Um ano antes, já existiam 14 centrais. Hoje, passados seis anos, são 16.
No cronograma das empresas de lixo, as obras estarão concluídas só em 2015. Para a construção de dez desses galpões, estão programados R$ 6 milhões de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A verba não saiu porque a Prefeitura ainda está definindo as áreas para instalação desses prédios. Segundo a Limpurb, quatro áreas já foram aprovadas e outras seis estão "em processo de análise".
O gargalo também ocorre na coleta seletiva nas ruas. Dos 292 caminhões contratados para recolher o lixo na capital, só 20 são destinados ao reciclável (7%).
Estagnação
A cidade de São Paulo produz mensalmente 293,9 mil toneladas de lixo, coletadas pelos consórcios Ecourbis e Loga Ambiental. Só 3.135 toneladas são recicladas – menos de 1% do lixo da capital.
O governo municipal argumenta estar acelerando os investimentos neste ano e aponta que são coletadas diariamente 120 toneladas de lixo reciclável na cidade, o que corresponde a 7% do lixo domiciliar que pode ser triado atualmente. Isso equivale a 0,6% de todo o lixo doméstico produzido na cidade.
O alcance do programa também é limitado: atinge somente 6 milhões dos 11 milhões de habitantes da metrópole. "Se o índice (de investimentos) é baixo hoje, imagina no início da gestão. Tem crescido, aumentado, e vai continuar aumentando. Vamos nos esforçar para continuar investindo", disse Kassab.
O secretário municipal de Serviços, Alexandre de Moraes, apresentou o aumento no volume de coleta como indicativo de investimento. "Nós não achamos que (o Orçamento) está estagnado nem em um índice baixo. Pulamos de 5 mil toneladas no fim da gestão da prefeita Marta (PT) para quase 38 mil toneladas. São oito vezes mais", diz.
O diretor da Limpurb, César Morales, afirma que a Prefeitura "dá todo o apoio material e de orientação para que as cooperativas se formem e trabalhem". Hoje, segundo ele, há 1.050 famílias integradas ao programa.
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