Jornalistas e representantes dos candidatos à Presidência da República tratam de políticas de sustentabilidade e relação com a imprensa no debate RSE na Mídia durante a Conferência Ethos.
Por Dal Marcondes, especial para o Instituto Ethos
O próximo Presidente da República vai enfrentar o desafio de cumprir as metas assumidas pelo Brasil em redução de emissões de gases estufa, além de comandar o País em direção a uma economia mais sustentável. Para falar sobre isto estiveram presentes na Conferência Ethos 2010 representantes dos principais candidatos ao Palácio do Planalto em uma conversa com jornalistas e mediada pelo vice-presidente executivo do instituto Ethos, Paulo Itacarambi. Pelo PT participou o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc; o representante do PSDB foi Xico Graziano, secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo; pelo PV falou João Paulo Capobianco; e Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL, compareceu pessoalmente. Os jornalistas foram representados por Cristiana Lobo, da GloboNews; Luciano Martins, do jornal Brasil Econômico e do Observatório da Imprensa; e Celso Marcondes, da revista Carta Capital.
Algumas das questões ambientais mais polêmicas foram abordadas, como a exploração de petróleo na camada pré-sal e a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. Plinio, do PSOL, descartou os dois empreendimentos no caso de uma vitória. “A melhor opção para as duas coisas é não fazer”, declarou Plínio, que se queixa de não ter espaço na mídia para apresentar suas ideias: “O debate eleitoral está polarizado entre PT e PSDB”, disse. O jornalista Luciano Martins abriu sua participação comentando que a candidata do PV, Marina Silva, tem a perna ambiental mais forte, o que poderia resultar em um desequilíbrio no tripé da sustentabilidade, que também se ancora nas vertentes social e econômica. Representando o PV, Capobianco explicou que apesar de ter ocupado o Ministério do Meio Ambiente no governo Lula por seis anos, Marina se elegeu senadora com bandeiras mais amplas no Acre, e que o programa de governo que está sendo construído pelo partido vai equilibrar a visão de governo.
Outra preocupação demonstrada pelos jornalistas foi em relação ao compromisso da candidata do PT, Dilma Roussef, em relação aos compromissos assumidos por este governo na questão ambiental, que sofreram ataques da candidata quando era ministra da Casa Civil. “Ela vai cumprir metas que podem ir contra o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento)?”, perguntou Cristiana Lobo. Minc, que sucedeu Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, contou que Dilma foi uma das principais forças dentro do governo a favor de que o Brasil assumisse metas de redução de emissões de gases estufa na Conferência do Clima em Copenhague, Dinamarca, no final de 2009. “Não vamos ter retrocesso”, garantiu. Para ele, Dilma irá garantir incentivos que possam tornar verde a economia real. Para isso é preciso uma política fiscal nessa direção: “Hoje carro elétrico paga mais imposto”.
Outra questão levantada pelos jornalistas é o fato de estarmos já muito próximos às eleições e os programas de governo não estarem prontos: “Porque ainda estamos nas preliminares?”, perguntou Luciano Martins. Xico Graziano, do PSDB, explicou que os partidos precisam esperar a formalização das candidaturas para anunciar o Programa de Governo, mas disse que haverá muitas semelhanças com a gestão de José Serra no Estado de São Paulo. “Belo Monte, da forma como foi feita, não seria construída em São Paulo”, disse. Para ele, é preciso incentivar inovações e tecnologias que estimulem a economia verde. “Em São Paulo já temos uma linha de financiamento focada nisso e com taxa de 6% ao ano”, diz o secretário do PSDB, para quem o mercado sozinho não consegue resolver as questões ambientais.
O ex-presidente do Instituto Ethos e pré-candidato ao Senado pelo PV, Ricardo Young, que estava na plateia, disse aos representantes dos partidos que qualquer política de incentivo à sustentabilidade deverá desonerar a produção e o trabalho e onerar os serviços ambientais. “Será preciso uma ruptura na forma tradicional de desenvolvimento e fortes investimentos em inovação e tecnologia”, disse Young. Isso se reforça com uma colocação de Luciano Martins, que aponta o Brasil como 42° colocado no ranking mundial de patentes e 12° no ranking de pesquisas. Para Xico Graziano, este é um cenário negativo a ser enfrentado: “Não podemos enfrentar os desafios das mudanças climáticas apenas com redução de desmatamento”, disse.
O jornalista Celso Marcondes, da Carta Capital, lembrou que em outros países a candidatura verde tem se mostrado uma “terceira via” viável na disputa eleitoral, como o que aconteceu na Colômbia, por exemplo, onde o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, lidera a corrida para a presidência da Colômbia, com quase 40% das intenções de voto. “Marina pode despontar sobre as propostas muito parecidas de PT e PSDB?”, perguntou. O ex-secretário executivo do MMA na gestão Marina Silva, João Paulo Capobianco, disse que é muito difícil antecipar processos decisórios, mas que em um mundo em transição novas alternativas são sempre bem vindas. “A campanha da Marina não será uma ‘guerra de currículos’, como estão fazendo Serra e Dilma”, disse.
Jornalistas e representantes dos candidatos mostraram que esta campanha deverá ter um forte enfoque nas políticas de desenvolvimento sustentável, uma vez que existe uma quase unanimidade na necessidade de equilibrar o Brasil socialmente, manter o crescimento econômico e mudar a forma de tratar as questões ambientais. (Envolverde)