Incinerador deve ser última alternativa para resíduos em São Paulo

Participantes de seminário avaliam que equipamento só é indicado para a queima de materiais que oferecem perigo à manipulação humana

A conclusão do seminário “Reciclagem: Metodologias Sustentáveis para Resíduos e a Inclusão Social” realizado nesta sexta-feira (28/50), na Câmara Municipal de São Paulo, é que os incineradores não resolvem a questão do lixo na cidade e, ainda, poderão causar outros problemas aos moradores. A avaliação predominante é que a tecnologia de queimar os resíduos para gerar energia deve ser encarada como a última das alternativas e só poderia ser utilizada para casos específicos, como a incineração de materiais hospitalares e outros produtos que represente perigo à manipulação humana.

“Os vendedores [de incineradores] estão apresentando aos municípios esta tecnologia como uma solução milagrosa, que vai resolver todo o problema do lixo, mas isto não é verdade”, alertou Sônia Vieira, consultora ambiental e integrante do Painel Intergovernamental de Mudança Clímatica (IPCC). A especialista, que é mestre em bioquímica, explicou que este tipo de tecnologia não é adequada para ser utilizada em larga escala na capital paulista. “Primeiro, temos que colocar em prática os três erres: reduzir o consumo, o que pressupõe uma educação ambiental dos cidadãos, reutilizar e reciclar.”

Para a integrante do IPCC, é preciso saber escolher bem a tecnologia ambiental para cada caso. “A incineração pode ser utilizada para queimar produtos hospitalares descartáveis e outros tipos de resíduos nocivos à saúde [dos catadores de material reciclável]”, avalia Sônia. Outro problema apontado pela consultora ambiental para a utilização do equipamento em lixo comum é o alto custo. “Uma tecnologia que seja segura e perfeita é caríssima”, informou.

Estima-se que um incinerador com capacidade para atender uma cidade oito vezes menor que São Paulo custe cerca de US$ 250 milhões (RS 455 milhões), fora o gasto com a manutenção. As organizações que participaram do seminário entendem que estes recursos seriam mais bem empregados em campanhas de educação ambiental e na organização de uma coleta seletiva eficiente na cidade.   

Nina Orlow, da Agenda 21 e do GT Meio Ambiente do Movimento Nossa São Paulo, também acredita que os incineradores têm que ser “a última das alternativas, depois de esgotadas todas as outras”. Segundo ela, os equipamentos, que estão sendo divulgados como “usinas verdes”, são na verdade “pseudo verdes”. “Quando você instala um incinerador, as pessoas tenderão a achar que não precisam reduzir o consumo, reutilizar ou reciclar mais nada”, ponderou.  

A pesquisadora canadense Jutta Gutberlet, por sua vez, destacou os prejuízos sociais que podem ser causado pela nova tecnologia. “Os incineradores acabam com o emprego de milhares de pessoas.” Ela entende que a melhor alternativa para cidades, como São Paulo, é estabelecer políticas que valorizarem os catadores e catadoras de materiais recicláveis, “os verdadeiros heróis do meio ambiente”.

O seminário foi organizado pelos vereadores Ítalo Cardoso e Chico Macena, ambos do PT, e contou com o apoio de diversas entidades da sociedade civil, entre as quais o Movimento Nossa São Paulo. Centenas de catadores, representantes de entidades e cidadãos interessados no tema lotaram o Salão Nobre da Câmara, onde ocorreu o debate.

Ato público pela ampliação da coleta seletiva será no dia 7 de junho

Durante o evento, o Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) divulgou a realização do Ato Público Pela Ampliação da Coleta Seletiva no dia 7 de junho, às 10 horas, em frente à Câmara Municipal de São Paulo. O objetivo da manifestação é reivindicar políticas públicas para o setor, entre as quais a instalação de galpões para as cooperativas e o pagamento pelos serviços prestados pelos catadores.

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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