Na prática, decisão de baixar a subvenção a empresas de ônibus deve elevar o valor da tarifa, hoje em R$ 2,70
No ano passado, cofres municipais destinaram R$ 800 milhões para cobrir deficit do sistema de transportes de SP
DE SÃO PAULO
Após aumentar subsídios a patamares recordes para congelar o preço da tarifa de ônibus por mais de três anos, a gestão Gilberto Kassab (DEM) mudou de política.
"Nossa meta é subsídio zero", diz Alexandre de Moraes, secretário dos Transportes, em referência à verba paga a empresas de ônibus, já que a receita na catraca e com os créditos do bilhete único não cobrem os custos.
Com Kassab, essa subvenção mais que dobrou em relação ao começo da gestão José Serra (PSDB), em 2005.
No ano passado, ultrapassou R$ 800 milhões -suficiente para fazer quase 20% dos 34 km de monotrilhos projetados na zona sul.
Agora, porém, a ideia é reduzir a verba pública no transporte. O conceito de subsídio zero visa se assemelhar ao que ocorre no metrô.
Na prática, não é exatamente zero, pois a prefeitura continuará bancando a gratuidade para idosos e deficientes, além do desconto para estudantes. Mas só. O restante terá de ser coberto pela receita da catraca.
A redução dos subsídios já começou a ser aplicada em 2010, quando a quantia deve cair para R$ 560 milhões -já que, depois de três anos congelada, a passagem subiu de R$ 2,30 para R$ 2,70.
Do total, R$ 360 milhões servirão para que empresas de ônibus renovem a frota.
"Acho que a gente consegue, até 2012, equacionar bem isso. E aí você tem um modelo novo só pagando a gratuidade e um sistema autogerindo", afirma Moraes.
Esse objetivo de reduzir os subsídios deve ser embutido nas regras da nova licitação do transporte, que prevê um "preço fechado" máximo de pagamentos (sem permitir injeção de mais recursos públicos quando aumenta a demanda, como ocorre hoje).
AUMENTO DA TARIFA
Na prática, a decisão de baixar as subvenções tende a elevar a tarifa paga pelos passageiros. Em tese, quanto menos subsídios, mais os usuários desembolsam para cobrir os custos do sistema.
Oficialmente, porém, a gestão Kassab nega que a conta será paga por quem anda de ônibus. Alega que haverá uma redução de custos operacionais do sistema de transporte que permitirá esse equilíbrio, como a eliminação de linhas sobrepostas.
Os especialistas costumam aprovar a injeção de subsídios à tarifa de ônibus, por uma questão social e de incentivo ao transporte coletivo. Muitos temem, no entanto, que esses gastos prejudiquem os investimentos na melhoria e expansão do serviço público. (EVANDRO SPINELLI E ALENCAR IZIDORO)