Debate revela quanto pedestres, motociclistas e cadeirantes estão vulneráveis em São Paulo

 

Participantes do Seminário “A Saúde e a Mobilidade na Cidade” apresentaram números sobre problemas de mobilidade na capital e propostas para reduzi-los

O coordenador da Comissão de Projetos do Conselho Diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, Tomaz Puga Leivas, apresentou aos participantes do seminário “A Saúde e a Mobilidade na Cidade” dados alarmantes sobre o número de vítimas do trânsito e das calçadas irregulares. Segundo ele, nos últimos 12 meses (encerrados em 1º de maio passado), somente o Pronto-Socorro de Ortopedia e Traumatologia do HC atendeu 300 pedestres atropelados, 550 motociclistas e 80 ciclistas acidentados. Entre os motociclistas, 300 foram internados para cirurgia, sendo 196 em estado grave.

“Nos dados não estão computados os casos fatais que deram entrada no Pronto-Socorro Central do HC”, explicou Leivas. O maior número de atendimentos relatados, porém, foi o de vítimas de queda: 2.200 pessoas. “Do total de quedas, aproximadamente mil ocorreram em vias públicas”, detalhou. Para prevenir este tipo de acidente, ele propõe a criação de manuais de orientação para a construção, a conservação e a manutenção das calçadas.

Confira a apresentação

A vereadora Mara Gabrilli (PSDB), mediadora do seminário ocorrido nesta segunda-feira (7/6), na Câmara Municipal de São Paulo, informou que a cidade possui 30 mil quilômetros de calçadas, “muitas vezes esquecidas e negligenciadas”. Ela avalia que a Prefeitura tem os instrumentos necessários para fazer “uma revolução” nesta área, mas não os usa.

Nem o calçamento dos imóveis da administração municipal são bem cuidados, na opinião da parlamentar. “A Prefeitura deveria fazer a calçada de seus mil quilômetros [de imóveis]”, propôs. Mara, que em razão de um acidente de automóvel se tornou tetraplégica e cadeirante, defendeu ainda a instalação de semáforos sonoros na cidade, para auxiliar a locomoção dos deficientes visuais.

O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Mauro Augusto Ribeiro, denunciou que os fatores determinantes dos acidentes de trânsito “são eminentemente econômicos e sociais”. Ou seja, o problema atinge principalmente os países mais pobres.

De acordo com ele, os dados da ONU colocam o Brasil na 5ª colocação em quantidade de acidentes. “Nós temos daqui a quatro anos uma Copa do Mundo e daqui a seis anos uma Olimpíada. Temos esse período para alcançar níveis aceitáveis nesta área”, sugeriu Ribeiro.

Poluição do ar provoca quatro mil mortes por ano na capital paulista

Os outros dois debatedores presentes ao seminário, Paulo Saldiva e Henry Joseph Junior, destacaram em suas falas as emissões dos veículos. O primeiro, que é médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, afirmou que a poluição é responsável pela morte prematura de aproximadamente quatro mil pessoas por ano na cidade.

No entendimento de Saldiva, do ponto de vista tecnológico, o único espaço que resta para reduzir as emissões de gases nocivos à saúde humana nos combustíveis é melhorar a qualidade do diesel. Entretanto, ele lembrou que o termo de ajustamento de conduta, assinado em 2008, entre a Petrobras, os fabricantes de veículos e o Ministério Público adiou para 2012 essa possibilidade. “No período [entre a assinatura do termo no Ministério Publico e a efetiva implantação da Resolução 315 do Conama], o excesso de emissão irá causar mais 14 mil mortes e isto não foi considerado naquele acordo”, criticou.

Para ele, o maior problema para reduzir as emissões é que “a política ambiental não leva em conta o ser humano como fator principal”. O especialista, que também coordena o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, lembra que a saúde das pessoas não é afetada apenas pela poluição do ar. “É o estresse que você passa no trânsito, as ilhas de calor existentes na cidade, a perda dos rios…”

Joseph Junior, presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), argumentou que no acordo jurídico mencionado por Saldiva foram estabelecidas medidas ambientais, e várias cidades, incluindo São Paulo, passaram a receber combustível de melhor qualidade. “O novo limite mais severo [em relação às emissões] entrará em vigor em 2012”, garantiu.

O representante da indústria automobilística responsabilizou a Petrobras pelo atraso na entrada em vigor da Resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). “Teríamos que saber antes qual o diesel que estaria sendo oferecido [pela Petrobras] para a gente produzir a tecnologia necessária [motor do veículo]”, justificou. 

Em sua apresentação, Joseph Junior explicou que os automóveis leves – que não usam diesel – fabricados atualmente são muito menos poluentes que os produzidos até 1.986. “Um veículo daquele ano emitia 28 vezes mais do que um novo, o que equivale dizer que um carro de 1986 polui igual a 28 veículos atuais.”

Confira a apresentação

O seminário “A Saúde e a Mobilidade na Cidade” foi promovido pelo Grupo de Trabalho (GT) Mobilidade Urbana do Movimento Nossa São Paulo, em parceria com a Comissão de Transportes da Câmara Municipal, e contou com a participação de dezenas de representantes de entidades da sociedade civil e cidadãos. Durante o debate, os participantes puderam questionar os palestrantes e fazer sugestões.

Até o final do ano, serão realizados mais três seminários – totalizando cinco da série “Mobilidade e Transporte Sustentáveis”- com o objetivo de construir uma agenda para a cidade envolvendo a sociedade civil e o poder público.

Os debates do segundo semestre abordarão as propostas para um Plano Municipal de Mobilidade e Transporte Sustentáveis, levando em conta os orçamentos municipal e estadual.

Próximos seminários:
20/9 – Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis
21/9 – A Experiência de Mobilidade da Cidade de Bogotá
8/11 – Orçamento da cidade de São Paulo e do Estado para as áreas de transportes e mobilidade urbana

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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