Reportagem percorre 20 ruas da cidade e identifica problemas em todas
Rampas irregulares, degraus muito altos, calçadas menores que o permitido e buracos são recorrentes nos bairros
MÁRCIO PINHO
DE SÃO PAULO
Degraus e rampas irregulares, calçadas menores que o permitido e buracos tornam a cidade de São Paulo pouco convidativa a caminhadas. Além disso, tanto moradores quanto o poder público fazem "barbeiragens" ao fazer as calçadas.
Essa foi a situação encontrada pela reportagem em visita feita a 20 ruas de todas as regiões da cidade com o professor de arquitetura do Mackenzie Flávio Marcondes, estudioso do tema.
Um dos ícones do descaso é a rampa da Assembleia Legislativa. Ela começa na guia da rua e se apodera do restante do passeio. O pedestre é obrigado a andar inclinado. O correto seria que declive estivesse dentro do imóvel.
A Assembleia promete adequar a rampa -o dono do imóvel é sempre responsável pela calçada. As multas por irregularidades vão de R$ 96 a R$ 11,5 mil, dependendo do tamanho do defeito.
Na Mooca (zona leste), raízes abriram uma cratera de mais de 4 m de comprimento em frente a outro imóvel de uso público. Na rua Celso de Azevedo Marques, o governo do Estado constrói um batalhão para a Polícia Militar.
Na zona oeste, é justamente uma rua chamada Urbanizadora, em Perdizes, o destaque negativo em termos de urbanismo. Postes, árvores e lixeiras obstruem o passeio.
Na Casa Verde (zona norte), várias calçadas têm menos 1,20 m de largura -limite mínimo. É comum ver pessoas andando nas ruas. Elas fogem também dos degraus, como o de 80 cm na rua José de Oliveira. "Já caí, hoje desvio", diz Nair Pereira, 76.
Os degraus são permitidos em casos excepcionais, dependendo da inclinação da rua. Porém, muitas vezes são construídos para deixar a frente plana para os veículos.
SEM DESCULPA
O fato de São Paulo estar em uma região de declives não deve ser desculpa para a a enorme quantidade de degraus, afirma a presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade da prefeitura, Silvana Cambiaghi.
Ela cita São Francisco (EUA). "É uma das cidades mais íngremes do mundo. Passei 15 dias lá com cadeira de rodas e não vi degraus."
Para o arquiteto Flávio Marcondes, que classifica as calçadas de "muito ruins", não há uma relação saudável entre público e privado. "O morador não sabe o que é só dele e o que é de todo mundo ou não se preocupa", diz.
O desconhecimento das regras foi notório entre os moradores entrevistados.
A prefeitura afirma que, desde 2005, já tornou acessíveis mais de 475 km de calçadas -de um total de 30 mil na cidade. Entre as reformas está a da rua Augusta (região central de SP) -onde os blocos colocados em 2007 já estão soltando.
O órgão diz que, de 2005 até 2009, foram aplicadas 10.752 multas. Quatro imóveis foram autuados pela prefeitura na última sexta, após a reportagem informar que havia fotografado as calçadas irregulares.
Leia também:
"Sem projeto de continuidade, a rua parece colcha de retalhos" – Folha de S.Paulo
"Calçada que absorve chuva está em teste" – Folha de S.Paulo
"República: donos de calçadas são notificados" – Jornal da Tarde