Em 43 dias de 2009, total de partículas inaláveis de 10 mícrons foi superior ao aceitável; áreas vizinhas a avenidas concentram poluentes
Eduardo Reina – O Estado de S.Paulo
No ano passado, várias regiões da cidade de São Paulo registraram alta concentração de partículas inaláveis de 10 mícrons, segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). O centro, por exemplo, ultrapassou os atuais limites de poluição em 43 dias no ano. Na região do Aeroporto de Congonhas, o ar ficou saturado desse material em 39 dias. Índice parecido aos de Pinheiros (32 dias), Santana (36 dias), Santo Amaro (30 dias) e Itaquera (32 dias). Nem a região do Parque do Ibirapuera escapou – seu ar ficou inadequado por 26 dias.
As áreas de São Paulo que têm maior concentração de poluentes, principalmente o chamado material particulado, são as próximas às grandes avenidas. Assim, regiões vizinhas às Marginais do Tietê e do Pinheiros e às Avenidas dos Bandeirantes, do Estado e Salim Farah Maluf, entre outras desse porte, são as que a própria Cetesb prevê que ultrapassem os limites nos novos padrões.
Vilão. Já foi pior. Em 1997, o monóxido de carbono, por exemplo, ultrapassou os limites-padrão 657 vezes. Esse gás era então o vilão da poluição atmosférica de São Paulo. Com a mudança nos escapamentos dos veículos e surgimento de catalisadores capazes de diminuir a emissão de poluentes, a situação mudou. "Nos últimos anos, não houve nenhuma ultrapassagem. O último registro é de 2007", diz Maria Helena Martins, gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, referindo-se ao monóxido.
As partículas inaláveis MP 10 também apresentaram drástica diminuição. Em 1997, houve 162 registros com limite alterado na atmosfera; no ano passado, apenas uma vez, segundo a Cetesb.
Já o ozônio vem tendo comportamento preocupante. Em 2008, o limite foi ultrapassado em 49 dias. "Mas em 2007 foram 72. O ozônio vem se destacando negativamente principalmente pelas condições climáticas e pelo grande número de veículos em circulação nas ruas", explica Maria Helena.
Hoje, o risco de um morador de São Paulo morrer de doenças cardiovasculares ou respiratórias é 30% maior do que de quem vive numa cidade com baixos índices de poluentes, segundo pesquisa da Faculdade de Medicina da USP. "É preciso investir na melhoria dos combustíveis e na mobilidade. Mas principalmente deve haver uma mudança comportamental da população, que precisa deixar de usar carros e utilizar o transporte público. Os governos precisam ampliar as ofertas de transporte e melhorar condições de tráfego", reivindica o médico Paulo Saldiva.
Enquanto isso não ocorre, é só o dia amanhecer mais seco para a produtora de eventos Daniele Cagni Batista, de 34 anos, sentir os olhos vermelhos, a garganta raspando, o nariz entupido. Desde criança, ela sofre com os males provocados pela poluição. "O tempo fica seco e sujo e começo a passar mal. O nariz entope. Os olhos ardem. A única solução é tomar um antialérgico." Fora os remédios, a única solução é sair de São Paulo. "Parece mágica. É só ir para um lugar com ar mais limpo que a alergia melhora."
LÁ TEM…
União Europeia
Os novos padrões de qualidade do ar determinam que até 2015 o limite de material particulado (partículas inaláveis) de 2,5 mícron, o mais fino e mais perigoso para a saúde, seja de 25 microgramas por metro cúbico (mg/m3). A meta é chegar em 2020 a 20 mg/m3. Os limites são maiores que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde e dos que serão adotados em SP.
Estados Unidos
Apesar da alta concentração de poluentes na atmosfera desse país, o limite estabelecido pela agência ambiental norte-americana é de 15 mg/m3.
Alemanha
Vigora desde 2005 em Berlim a diretriz ambiental que determina que a concentração de 50 mg/m3³ de partículas inaláveis só pode ser ultrapassada em 35 dias por ano. Em Munique, por exemplo, esse nível foi superado em 34 dias e em Berlim 20 vezes apenas em cinco meses do ano.