“SP ficará 3°C mais quente neste século” – O Estado de S.Paulo

 

Como consequência do aquecimento na Região Metropolitana, o número de dias com chuvas intensas na capital dobrará e haverá um aumento de dias e noites quentes. Os dados constam de estudo feito por pesquisadores do Inpe, Unicamp, Unesp e USP

Afra Balazina – O Estado de S.Paulo

A Região Metropolitana de São Paulo terá um aumento da temperatura média entre 2ºC e 3ºC neste século, o que dobrará o número de dias com chuvas intensas na capital paulista e levará a uma elevação das ondas de calor e dos dias e noites quentes na região. Os dados fazem parte do relatório Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas.

O estudo aponta que, se a expansão urbana continuar com o padrão atual, em 2030 cerca de 11% das novas ocupações poderão ocorrer em áreas de risco de deslizamento e mais de 20% da área total de expansão seria suscetível a enchentes e inundações. "O estudo não traz nenhuma boa notícia", resume Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A Região Metropolitana de São Paulo possui cerca de 20 milhões de habitantes e as projeções indicam que a mancha urbana será o dobro da atual em 2030. Além de ter projeções do clima e saber a declividade do terreno, o uso e a ocupação do solo também influencia na vulnerabilidade – uma área inclinada ocupada por favela tem risco muito maior que uma área com vegetação, explica Nobre.

A população está cansada de saber dos impactos negativos das chuvas fortes e enchentes. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no período de 1988 a 2009 houve um total de 1.457 mortes por deslizamentos no Brasil, sendo 220 no Estado de São Paulo. Somente o Rio de Janeiro teve um número maior: 509 mortes.

A pesquisa mostra ainda que o clima já vem mudando na capital paulista. Chuvas acima de 50 milímetros ao dia, por exemplo, eram raras antes de 1950. Hoje, ocorrem de duas a cinco vezes por ano na cidade. "A crescente urbanização das periferias atuando em sinergia com o aquecimento global projeta que eventos com grandes volumes de precipitações pluviométricas ocorrerão com mais frequência no futuro, abarcando cada vez uma maior área da Região Metropolitana de São Paulo", diz o estudo.

O aquecimento global é provocado pelas emissões de gases de efeito estufa – o principal deles é o gás carbônico. Mas a temperatura nas cidades também é maior nas áreas cobertas por edifícios e pavimentação – locais pavimentados irradiam 50% a mais de calor que superfícies com vegetação.

Inevitável. Segundo Nobre, mesmo que São Paulo passasse a ter emissão zero a partir de hoje, o aquecimento global continuaria. É por isso que o estudo ressalta a importância da adaptação para o aumento da temperatura e suas consequências.

Para evitar maiores danos, as cidades da Região Metropolitana precisam investir no controle das ocupações de áreas de risco e na proteção das áreas de várzeas de rios. A pesquisadora Andrea Young, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, lembra da importância da criação de parques lineares, ao longo dos rios – algo que a Prefeitura de São Paulo começou a se preocupar nos últimos anos.

Ela ressalta que, além de atuar para recuperar a vegetação na área, é preciso mudar o padrão de construção nas cidades – que usa muito vidro, o que facilita a retenção do calor e funciona como uma estufa. Para Andrea, é fundamental que as 39 cidades da região atuem em conjunto. "Ainda não há uma gestão integrada."

O trabalho reuniu pesquisadores do Inpe, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP) e a Embaixada do Reino Unido apoiaram o estudo. 

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