“Urbanistas defendem mudanças pontuais” – O Estado de S.Paulo

 

Especialistas apontam alto custo da obra e diferentes perfis de bairros como entraves

Em vez de criar um plano mirabolante para transformar o eixo de crescimento da cidade, com um projeto que talvez nem saia do papel, a Prefeitura deveria se concentrar em projetos mais localizados, que ajudariam a resolver problemas graves em prazos mais curtos. Isso também ajudaria a atender às demandas específicas de cada bairro conforme suas especificidades.

A opinião é de urbanistas ouvidos pelo Estado. "Não adianta pensar que um único projeto de rebaixamento resolve todos os problemas de tantos bairros ao longo dessa operação urbana", diz Luiz Carlos Costa, professor da FAU-USP. "Os bairros são muito diferentes. Por exemplo, na Barra Funda, a linha do trem não é o entrave principal para o desenvolvimento do bairro."

O projeto de Operação Urbana Lapa-Brás, que prevê o aterramento de 12 quilômetros de linha de trem e a construção de uma nova avenida com a mesma extensão, compreende uma área de 2.146 hectares em trechos de operações urbanas criadas no Plano Diretor de 2004 que ainda não foram iniciadas – parte das áreas da Diagonal Norte, Diagonal Sul e Centro e a totalidade da Operação Urbana Água Branca.

Dimensão que pode inviabilizar a obra, na opinião de urbanistas. "Essa megaoperação urbana muda até o foco da revisão do Plano Diretor. As outras operações são mais fáceis de fazer separadamente, dá até para controlar a evolução delas. Na realidade, a Prefeitura está propondo a construção de uma cidade média dentro da própria cidade. Isso é uma operação para várias gestões. Por que eles não seguiram com as operações urbanas que já existiam?", diz a arquiteta e urbanista Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo.

O secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, explica que os estudos da nova Operação Urbana estão sendo feitos há um ano e admite que o prazo para a conclusão das obras é longo. Mesmo se tudo ocorrer conforme o previsto, com os Certificados de Potencial Adicional de Construção sendo colocados no mercado em 2012, não há chances de as obras acabarem antes da Copa de 2014. Nem previsão para a conclusão.

"Mas quanto mais estudamos a região, mais nos convencemos de que o projeto pode ser fundamental para transformar a cidade. É preciso, porém, que a população se aproprie e discuta a ideia", diz.

Mudanças. Entre as mudanças previstas no projeto, o pátio ferroviário da Lapa de Baixo abrigaria um novo terminal de ônibus para passageiros vindos das Rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Castelo Branco e receberia as linhas de trem vindas das regiões sul, oeste e norte da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Tornaria-se uma nova porta de entrada da cidade.

O Terminal Rodoviário da Barra Funda passaria a ter um outro tipo de uso, mais adequado às características culturais da vizinhança, onde existem universidades e o Memorial da América Latina. A principal pretensão do projeto é conseguir reverter o eixo de crescimento populacional de São Paulo, concentrado em áreas próximas a represas e florestas, na regiões norte e sul.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade deve ter um crescimento de 660 mil habitantes nos próximos dez anos, com o aumento concentrado nas periferias e redução no centro. Com a construção do túnel e a revitalização da região, a Prefeitura acredita que mais de 400 mil novos habitantes passem a viver nesse eixo que corta a região central. "O projeto incentiva uma cidade compacta, adequada ao longo da linha do trem, e isso é uma ideia que sempre apoiamos", diz João Crestana, presidente do Secovi-SP. / BRUNO PAES MANSO E RODRIGO BRANCATELLI

João Crestana
Presidente do Secovi
"Em uma cidade grande como São Paulo, é preciso ter grandes obras para mudar o estilo dos bairros."

Lucila Lacreta
Urbanista e arquiteta
"Tudo está ainda muito nebuloso, é preciso ainda responder a várias perguntas. Acho que falta muita discussão."

Luiz Carlos Costa
Professor da FAU-USP
"Nem todo bairro tem as mesmas demandas. Então não se pode ter apenas um único projeto para resolver o problema."

Compartilhe este artigo