Projeto da CET e de ONGs prevê que bairro ganhe 19 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas e seja o 1º ‘bike friendly’ do Brasil
Rodrigo Burgarelli, Renato Machado
A Prefeitura de São Paulo estuda um projeto piloto para criar uma rede de ciclofaixas no bairro de Moema, na zona sul da capital. A proposta prevê 19 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas espalhadas pela região ? no mesmo estilo das motofaixas existentes na Rua Vergueiro e na Avenida Sumaré. Elas ocupariam o lugar de antigas vagas de estacionamento, suprimidas há dois meses.
O projeto inicial foi elaborado por ciclistas, em parceria com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que indicou as ruas aptas para receberem as ciclofaixas. Em uma reunião na manhã de ontem, o documento foi entregue à chefe de gabinete da Secretaria dos Transportes. O titular da pasta, Marcelo Cardinale Branco, informou que vai analisar a proposta para depois decidir se vai adotá-la. O secretário, no entanto, adiantou que a gestão tem a intenção de promover e ampliar as políticas para as bicicletas.
Caso o projeto seja implementado, Moema será o primeiro bairro com estrutura cicloviária completa em toda a cidade ? projeto pioneiro também no Brasil. Atualmente, não existem ciclofaixas de deslocamento em São Paulo ? a única existente é a Ciclofaixa de Lazer, que liga parques das zonas sul e oeste, mas que funciona apenas nos fins de semana e feriados e não é voltada para transporte.
A proposta prevê que 13 ruas do bairro ? que já foram mapeadas ? recebam as faixas. Elas deverão ser demarcadas do lado direito das pistas, onde havia as vagas de estacionamento. Não existirá separação física por meio de muretas ou gradis entre as faixas para bicicleta e o restante do tráfego. O modelo será parecido com o das duas motofaixas existentes na capital, demarcadas pela sinalização horizontal.
Multiplicação. Além de facilitar o tráfego de ciclistas pelo bairro, o projeto tem a intenção de servir como laboratório para outros pontos da cidade ? na reunião, foram citados os bairros do Brooklin, de Santo Amaro e do Itaim-Bibi. "No futuro, esse projeto pode transformar-se em um padrão brasileiro para a instalação de ciclofaixas", disse o cicloativista e diretor-geral do Instituto CicloBR, André Pasqualini, que participou da elaboração do projeto.
A escolha de Moema como embrião do plano está relacionada com várias características do bairro, como o relevo plano, que facilita o deslocamento em bicicletas. Além disso, a região não apresenta cruzamentos tão carregados quanto outros pontos da cidade. Mesmo assim, para aumentar a segurança dos ciclistas, o projeto não prevê a adoção das faixas em avenidas mais movimentadas ? como a Ibirapuera e República do Líbano.
A próxima etapa a ser vencida para a instalação definitiva será concluir o projeto executivo das faixas. Para isso, seu traçado terá de ser adaptado a pontos de ônibus, cruzamentos, semáforos, entradas de edifício e outros elementos da estrutura viária do bairro, o que deve demorar cerca de três meses.
Esse trabalho será realizado por grupos de cicloativistas e urbanistas, como o Instituto CicloBR, a Associação Transporte Ativo e a consultoria TC Urbes. Também participou da reunião o Institute for Transportation and Development Policy (ITDP), uma ONG americana de atuação internacional da qual faz parte o ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa. Ele instalou os bem-sucedidos corredores de ônibus e fez da capital colombiana uma referência em políticas para bicicletas. Com o planejamento final nas mãos, caberá à CET fazer a pintura e a sinalização das faixas do bairro.
Polêmica. A extinção das vagas de estacionamento em maio provocou reação dos moradores de Moema. Muitos alegaram que se trata de um bairro residencial, onde os moradores costumam parar os carros nas ruas. Além disso, havia o receio de que a melhoria no trânsito com a criação de mais faixas faria a região transformar-se numa rota alternativa aos congestionamentos das principais vias da zona sul.