“Em bairro pobre, colégio tem sucesso ao envolver alunos e pais” – Estado de S.Paulo

 

Escola da zona leste estimula alunos a escrever textos sobre a história de sua comunidade

Carolina Stanisci – O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO

"Professora, a senhora precisa passar o enigma", alertam os alunos de Eliane do Carmo Evangelista de Oliveira às segundas-feiras, quando ela se esquece de sugerir jogos e adivinhações de matemática, para que resolvam no decorrer da semana.

A motivação dos estudantes e o envolvimento da comunidade foram algumas das razões que deram à escola estadual Professora Rita Pinto de Araújo a melhor nota do Ideb no ciclo de 1.ª à 4.ª série na capital paulista: 7,6.

"A gente faz um trabalho diferenciado. Com a minha classe, tenho projeto para matemática e leitura", conta Eliane, orgulhosa, mas não surpresa, com a nota alta: "Já tínhamos ido bem no Saresp (prova aplicada pelo governo de São Paulo)." A professora é responsável por 1 das 12 turmas de 3.ª e 4.ª séries que assistem aulas pela manhã. Há outras 12 turmas, de 1.ª e 2.ª séries, que vêm à tarde. Ao todo, a escola tem 840 alunos.

Eliane, que adora matemática, conseguiu transmitir seu gosto pela disciplina aos estudantes. "Acho que os desafios têm melhorado bastante o desempenho deles. Tenho alunos que fizeram prova este mês e não erraram nenhuma vírgula." A professora também credita o sucesso da escola ao envolvimento dos pais. Há reuniões mensais entre eles e os professores.

A vice-diretora, Rosemeire da Silva Avanzi, endossa a preocupação da escola com a comunidade. Localizada no bairro Jardim Adutora, na Zona Leste, a "Rita", como é conhecida, fica distante do centro. Mas o fato de estar em área pobre não atrapalhou na hora de deixar para trás outras escolas paulistanas. "Acho que, pela própria dificuldade financeira dos pais, a gente acaba tendo muito contato com eles", diz Rosemeire, que chorou de emoção ao saber que sua escola tinha sido "campeã" no Ideb. "Sinto que fui coroada por todos meus esforços."

Outro diferencial ressaltado pela vice-diretora é o incentivo à produção de textos com temas transversais. Na aula de história, os alunos podem escrever sobre a história da comunidade, de sua família. Até receitas culinárias os estudantes já escreveram. "É uma coisa simples, mas ali ele (aluno) tem o contato com a leitura e com as quantidades."

Acompanhamento. O segredo do sucesso da escola parece fácil de ser seguido, como explica a vice-diretora: "Digo aos pais que é importante olhar os cadernos do filho, ver se realmente ele está fazendo a lição. Se não estiver, nos procure. Eu atendo todos os pais que nos procuram."

Seguindo à risca essa cartilha, a "Rita" é querida por alunos, funcionários e comunidade. Uma das funcionárias mais longevas é Aparecida Lopes da Silva, de 62 anos. Ela entrou há 25 anos como servente e hoje é zeladora, mora na escola. "É difícil alguém querer sair daqui. Uma escola dessas ninguém vai achar melhor", conta ela, com conhecimento de causa. Andressa, sua filha de 10 anos, está na 4.ª série, e adora o lugar. "Já vi professor chorar por não conseguir ficar dando aula aqui." 

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