Prometida para este semestre, licitação que disciplinaria linhas de vans e ônibus só sairá em três anos; contrato foi prorrogado até 2013
Renato Machado, Diego Zanchetta
A gestão Gilberto Kassab (DEM) empurrou para seu sucessor a responsabilidade de reorganizar o transporte público, atualmente feito em São Paulo por 20 mil ônibus e peruas. Em norma publicada sábado no Diário Oficial da Cidade, os contratos dos 6 mil perueiros foram prorrogados até 2013. Como consequência, ficou adiada a nova licitação para o setor que deveria sair neste ano.
A prorrogação adiou, por exemplo, a possibilidade de se reduzir o número de peruas no centro e nos principais corredores exclusivos. Essa reforma foi defendida publicamente pelo ex-secretário dos Transportes Alexandre de Moraes, em abril, como forma de melhorar a velocidade dos carros e das linhas operadas pelos ônibus e evitar a disputa entre as viações e as cooperativas pelas linhas com maior demanda de passageiros.
Pelo contrato atual, às peruas caberia pegar os passageiros dos ônibus nas principais avenidas e levá-los aos bairros em itinerários diferentes dos operados pelas viações. Mas, após sete anos, desde que o governo municipal fez a permissão do transporte público a oito cooperativas de peruas, isso não tem ocorrido na prática. Com a renovação da frota nos últimos três anos, 2.900 veículos operados pelos perueiros são biarticulados, iguais aos ônibus. Isso aumentou a disputa pelas linhas rentáveis, enquanto os trajetos dentro das regiões mais periféricas contam com poucos veículos.
Concorrência. Na Pompeia e na Vila Madalena, zona oeste, é comum ver peruas operando linhas que deveriam ser exclusivas das viações. Um novo contrato era defendido por especialistas e vereadores como instrumento para colocar regras e prazos para que as cooperativas cumprissem o papel de "alimentadoras do sistema". "O corredor Rebouças deveria receber umas três ou quatro linhas troncos, mas hoje até táxi entra lá e contribui para que a velocidade seja baixa", diz o consultor de trânsito Horácio Figueira.
Apesar de Kassab afirmar no dia após a exoneração de Moraes que manteria "todas as políticas para o transporte", a gestão decidiu abandonar a nova licitação.
Reorganização. A Prefeitura negou ontem que vai deixar a responsabilidade de uma nova licitação para o próximo governo. A licitação "deverá, sim, ter início nesta gestão", afirmou, por meio de nota. Segundo a administração, será necessário um período de 180 dias para a aquisição da frota antes do início do contrato – em julho de 2013. O governo informou ainda que o aditamento do contrato por três anos e não por um (como defendia Moraes) foi para que os "permissionários possam financiar veículos novos", pois está prevista a substituição de 1,7 mil até 2011.
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