Conclusão do último trecho do corredor de ônibus será entregue no dia 31 de julho
João Varella, do R7
São Paulo vai ganhar no dia 31 deste mês o último trecho do corredor de ônibus ABD, que vai ligar Diadema até o bairro do Morumbi, cumprindo finalmente uma promessa feita há 24 anos pelo governo estadual. Porém, o percurso que era previsto para ser ocupado por trólebus vai ser usado por ônibus a diesel. Essa mudança para um meio de transporte mais poluente deverá causar um grande impacto ambiental na região metropolitana.
Um cálculo feito com base no cruzamento de dados da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) com a ONG Respira São Paulo estima que serão emitidos 1.254 toneladas de CO2 (gás que contribui para o efeito estufa) por ano, pelos veículos que circularão no corredor. Para absorver essa quantidade de gás carbônico, o governo precisaria plantar 179.142 árvores, o que -segundo a consultoria ambientam Key Associados – representa 12 vezes a quantidade de árvores que existem no parque do Ibirapuera.
O corredor ABD atualmente liga o terminal do Jabaquara ao terminal de São Mateus, passando pelas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema. Atualmente, trafegam pelo corredor 273 ônibus, 80 deles trólebus (29%), segundo a EMTU. O novo trecho terá 12 km de extensão.
Cada ônibus a diesel emite em média 9,58 toneladas de CO2 por ano na atmosfera, segundo dados da Respeira São Paulo. Já o trólebus, como é movido a energia elétrica, não emite gás carbônico. Ao menos 37 ônibus da EMTU passarão pelo corredor – 20 veículos da linha Diadema-Brooklin (376 e 376 VP1) e 17 da Jardim Castelo/ Itaim Bibi-Centro (Via Diadema) – diariamente.
A SPTrans, empresa que administra a rede de ônibus na capital paulista, também vai operar no corredor ABD. Serão 94 coletivos nas 13 linhas que passarão pelo local (veja no infográfico abaixo as linhas). O cálculo da emissão de 1.254 toneladas CO2 foi feito com base na soma dos veículos da EMTU com os da SPTrans.
Para compensar toda essa emissão, seria necessário plantar 179.142 árvores logo na inauguração do corredor, ou 8.953 árvores por ano durante 20 anos, até que os trólebus representem 100% dos veículos no trecho. A estimativa foi feita pelo especialista em mudanças climáticas e florestas Joaquim Libanio Ribeiro Ferreira Leite.
Segundo Leite, para amenizar o efeito estufa global, não importa onde essas árvores serão plantadas. Mas a população que fica ao redor do novo corredor sente diretamente o impacto dos ônibus a diesel. Por isso, o ideal seria plantar perto da região da emissão.
– A árvore funciona como uma barreira física para segurar o material particulado [que é nocivo à saúde].
O engenheiro e doutor da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) Paulo Afonso André, um dos coordenadores do LPAE (Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental) da USP, concorda com Leite e acrescenta que, provavelmente, a demanda por hospitais da região poderia ser diminuída caso os trólebus tivessem sido adotados. Um recente estudo em que André participou quantificou os gastos que a saúde pública vai ter com a demora na adoção de um combustível mais limpo no Brasil. Segundo ele, para calcular os danos à saúde provocados pela demora na adoção do trólebus seria necessário fazer uma medição in loco complexa.
– Às vezes, ônibus são mais nocivos do que chaminés de fábricas, pois a emissão fica mais perto da altura do nariz das pessoas.
Jorge Françozo de Moraes, presidente da Respira São Paulo, diz lamentar que a questão ambiental não entre nos cálculos das obras do governo.
O novo trecho vai custar R$ 22,9 milhões, mas não há previsão do plantio de árvores. Sem contar com o novo trecho, 66% (22 km dos 33km) da extensão do corredor ABD está preparado para receber trólebus. Atualmente, o governo diz que está em fase final de implantação dos 11 km que faltam entre os terminais Piraporinha, em Diadema e Jabaquara, em São Paulo, ao custo de R$ 20 milhões.
A EMTU disse não ter prazo para eletrificar o trecho Morumbi-Diadema.
Outro lado
Por meio de nota da assessoria de imprensa, a EMTU disse que investe em tecnologia que visa "melhoria de qualidade de vida para o usuário e a população em geral". A nota ainda afirma que, além do trólebus, o governo busca ônibus que poluem menos com propulsão a etanol e hidrogênio, além de investir em catalisadores.
"Além disso, desde 2006, cerca de 2 mil ônibus com ano de fabricação entre 2006 a 2010 entraram no sistema regular gerenciado pela EMTU/SP na Região Metropolitana de São Paulo, que conta com um total de 4.852 veículos. São ônibus modernos, com motor a diesel com sistema de redução de emissão de poluentes", descreve o texto.
Por fim, a EMTU destaca que conta com uma equipe técnica que fiscaliza regulagem dos motores dos ônibus, o que melhora a qualidade da queima do combustível. Um motor com manutenção adequada polui menos.
O novo traçado
O novo traçado se inicia no Terminal Metropolitano de Diadema. Depois vai pela Avenida Pres. Kennedy, no município de Diadema e Avenidas Cupecê, Ver. João de Luca, Prof. Vicente Rao e Roque Petroni Jr, em São Paulo. O ponto final é a Estação de Transferência do Morumbi que fica entre as duas pistas da avenida Roque Petroni Júnior.
Linhas de ônibus do novo traçado
607C/10 Jd. Míriam – Shopping Morumbi
516N/10 Jd. Míriam – Itaim Bibi
5131/10 Cidade Ademar – Pq. D. Pedro II
6358/10 Jd. Luso – Term. Bandeira
6358/41 Vila Império – Term. Bandeira
509M/10 Jd. Míriam – Term. Princesa Isabel
5178/10 Jd. Míriam – Lgo. São Francisco
577T/10 Jd. Míriam – Vila Gomes
5129/10 Jd. Míriam – Term. Guarapiranga
5129/41 Jd. Míriam – Santo Amaro
6312/10 Jd. Luso – Term. Amaral Gurgel (noturna)
675P/10 Shop. SPMarket – Metrô Conceição
6040/10 Term. Capelinha – Itaim Bibi (circular)
376 Diadema (Terminal) / Brooklin (São Paulo)
376VP1 Diadema (Terminal) / Shopping Morumbi (São Paulo)
044 Jardim Castelo (São Paulo) / Itaim Bibi (São Paulo)