Aumento do trânsito para quem não usa a via exclusiva, paradas de ônibus e vans dos dois lados da via e falta de informações sobre alterações de linhas foram algumas das reclamações
Airton Goes airton@isps.org.br
O corredor de ônibus que liga o município de Diadema ao Bairro do Brooklin, em São Paulo, enfrentou o seu primeiro teste pra valer na manhã desta segunda-feira (2/8). De acordo com a maioria das opiniões ouvidas pela reportagem, a nova via exclusiva para a circulação de veículos de transporte coletivo, que foi inaugurada no sábado, teve uma estreia em dia útil bastante complicada. Tanto usuários dos ônibus e das vans que circulam na Avenida Cupecê, quanto motoristas de veículos particulares reclamaram de problemas.
“Minha primeira impressão foi negativa em relação ao trânsito”, afirmou a assessora de comunicação Vanessa Correia, que é usuária das vans que vão para o Terminal Jabaquara do Metrô e circulam em parte da avenida. “As linhas que servem para mim continuam parando do lado direito da via [do lado oposto ao do corredor]. Ou seja, a van acabou ficando parada no trânsito junto com os veículos particulares [que não podem usar a faixa exclusiva para ônibus]”, relatou ela, após utilizar um destes veículos de transporte para ir trabalhar por volta das 8 horas da manhã.
Vanessa disse que demorou mais tempo para chegar ao metrô, mas não soube precisar quanto. “Está mais congestionado”, comparou. Embora reconheça que a existência de paradas de ônibus e vans dos dois lados da via prejudique o trânsito, ela pondera que, se a Prefeitura retirar da avenida as linhas que vão para o Jabaquara, a situação poderá ficar ainda pior para as pessoas que dependem do transporte coletivo. A moradora do Jardim Miriam observa ainda que as calçadas do lado direito da via não foram reformadas e continuam em situação precária, o que contrasta com o novo piso das paradas da faixa exclusiva.
Outra passageira que continua a tomar a condução do lado direito da Avenida Cupecê é a cozinheira Valéria Barbosa. Às 7h45 minutos, ela informou à reportagem que estava há uma hora esperando a van que vai para o Hospital São Paulo. “As vans chegam a parar no ponto, mas ninguém consegue entrar de tão cheias”, reclamou. Segundo Valéria, foi a primeira vez que ela demorou tanto para conseguir pegar o transporte coletivo.
Enquanto o trânsito tomava conta das três faixas normais de rolamento em praticamente toda a extensão do trecho do corredor da Avenida Cupecê, os ônibus que utilizavam a faixa exclusiva tinham pista limpa e só paravam nos semáforos e para recolher passageiros. Os motoristas destes veículos demonstraram ter gostado da nova via. Alguns afirmaram que estão conseguindo economizar de 15 a 25 minutos para fazer o mesmo trajeto, em relação à semana anterior. “Melhorou cem por cento”, resumiu Natanael Tatau, um dos profissionais do volante.
Para os passageiros dos veículos que circulam na faixa especial, entretanto, as paradas apresentam problemas. “Não gostei muito não. O espaço [da parada] é pequeno e quando chega o ônibus todo mundo quer entrar ao mesmo tempo, o que pode ser perigoso”, argumenta a digitadora Olga Cestari, que estava há 15 minutos aguardando o ônibus intermunicipal da linha Terminal Diadema/Itaim. Dois pararam enquanto a reportagem estava no ponto, mas já estavam lotados e Olga não conseguiu entrar.
No trecho entre a divisa de Diadema e a Casa Palma, no Bairro da Cidade Ademar, em cada parada da faixa exclusiva de ônibus havia um funcionário da São Paulo Transporte S.A. (SP Trans) para orientar os usuários do sistema. O serviço deve ter sido bastante usado, pois uma das principais reclamações ouvidas pela reportagem foi a falta de informações sobre as mudanças de linhas e de itinerários dos ônibus e vans que circulam na região.
Houve mudança até de veículo utilizado. A linha Vila Missionária/Conceição (5752-10), por exemplo, que era servida por ônibus, passou a utilizar vans, o que não agradou aos passageiros. Como o espaço da van é menor, a avaliação das pessoas é que vão ficar ainda mais espremidos daqui para frente.
Se por um lado, a SP Trans deslocou funcionários para atender, pelo menos, o trecho que a empresa considera mais necessário do corredor, por outro, a fiscalização da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi bastante discreta. No mesmo percurso, havia apenas uma equipe de "marronzinhos" na parada da Casa Palma. Em diversos locais da avenida, especialmente próximo ao Parque do Nabuco, foram observados veículos estacionados em locais proibidos, o que comprimia ainda mais o trânsito.
Outro problema verificado foi o semáforo do cruzamento entre as avenidas Cupecê e Santo Afonso. No local, onde não havia nenhum agente da CET, as pessoas tinham que atravessar a faixa no farol vermelho, pois a sinalização abria apenas para os veículos que vinham de uma ou outra direção, mas nunca ficava verde para os pedestres.
Quem mais sentiu as mudanças, porém, foram os motoristas de veículos particulares, que chegaram a reclamar com os funcionários da SP Trans sobre o aumento do congestionamento na região. A representante comercial Giselia Campos demorou mais de três horas para vir do centro de São Bernardo até a Granja Julieta. Ela conta que saiu às 6h30 e chegou às 9h40, no trabalho. “Do total de tempo que gastei, entre uma hora e trinta e duas horas foi do centro de Diadema até o cruzamento da Avenida Santo Amaro”, detalhou.
Giselia explica que faz o caminho quase todos os dias no mesmo horário. “Hoje, senti muito mais trânsito. Pensei até que tinha algum acidente, pois não é normal. Mas não havia nada, apenas notei que tinha muitos caminhões rodando na via”, relatou. Para ela, uma das coisas que atrapalha o fluxo do trânsito é a parada de ônibus dos dois lados da avenida. “Quando falaram do corredor, imaginava que os pontos ficariam de um lado só, mas não foi isso que percebi”, registra.
Apesar das críticas, a representante comercial reconhece que a manhã desta segunda-feira foi atípica. “Muitas escolas voltaram às aulas hoje”, pondera Giselia, lembrando que o dia marca o retorno das férias para muita gente.