Moradores do bairro na Zona Sul chegam a ficar três horas na fila da unidade de saúde para agendar com clínico geral em outubro. Entidades querem nova UBS.
Airton Goes airton@isps.org.br
Margarida Alves Martins tem 66 anos, é hipertensa e diabética, e trabalha como empregada doméstica. Ela conta que chegou à Unidade Básica de Saúde (UBS) da Avenida Santo Afonso, no Jardim Miriam – bairro da periferia da Zona Sul de São Paulo –, às 5 horas da manhã para tentar marcar uma consulta médica com o clínico geral. “Já tinha gente na fila”, revela.
Em virtude de sua idade, ficou na fila preferencial para idosos, mas isto não evitou que tivesse que esperar pouco mais de três horas para ser atendida. “Consegui marcar para o dia 18 de outubro”, relata Margarida, resignada com a situação: “É assim que as coisas funcionam por aqui”. Ela deixou a UBS pouco depois das 8 horas da manhã e foi trabalhar.
Outra moradora do bairro que enfrentou a espera na UBS para marcar consulta foi a dona de casa Marcelina Silva de Oliveira, de 63 anos. Ela informa que chegou ao equipamento de saúde às 6 horas da manhã e ficou na fila comum. “Só saí agora, depois das 9 horas, e estou sem tomar café”, lamentou.
Marcelina também conseguiu marcar com o clínico geral para a segunda quinzena de outubro. “Isto porque eu abri mão do médico que eu queria, pois ele só tinha vaga para novembro. Tive que agendar com outro”, destacou. Ela marcou ainda uma consulta de ginecologia, mas neste caso não houve jeito: a data ficou mesmo para novembro. “Há mais de um ano que não vou no ginecologista” conta a dona de casa.
Relatos como o de Margarida e Marcelina foram feitos nesta segunda-feira (2/8), durante o ato público realizado por entidades da sociedade civil da região em frente à unidade de saúde da Avenida Santo Afonso, 419. No local, dezenas de pessoas formavam fila desde a madrugada para tentar marcar consultas. Às 9h30 da manhã, quando terminou a manifestação, 46 cidadãos ainda aguardavam para serem atendidos.
O ato público teve por objetivo chamar a atenção do poder público municipal para a necessidade de melhorar o atendimento à saúde no Jardim Miriam, onde os moradores reivindicam há 10 anos uma nova UBS. A unidade da Avenida Santo Afonso é a única existente na região e está sobrecarregada. O posto deveria atender, segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 20 mil pessoas, mas tem mais de 72 mil cadastradas.
Questionado sobre a demora de até 80 dias para se conseguir uma consulta com o clínico geral naquela UBS, o integrante do Movimento de Saúde – uma das organizações que promoveu o evento – Teófilo Tavares Paiva declarou que a situação se repete em outras unidades da região. “A gente houve esse tipo de reclamação o tempo todo”, lamentou.
Segundo ele, a espera pela consulta é ainda maior quando se trata de especialidades que dependem de encaminhamento a algum ambulatório. “O caso mais grave é ortopedia”, avalia Paiva.
Outra UBS da região que o Movimento de Saúde denuncia que também está sobrecarregada, com mais de 60 mil pessoas cadastradas, é a do Parque Dorotéia. Lá os moradores do entorno – Santa Terezinha, Pantanal e outros bairros – lutam para conquistar uma unidade de saúde tradicional e cinco equipes do Programa de Saúde da Família (PSF).
Participantes do movimento irão à Câmara Municipal no próximo dia 9
Quanto à continuidade do movimento pela implantação de novas unidades de saúde na região, os organizadores da manifestação informam que o próximo passo é uma ida à Câmara Municipal no dia 9 de agosto, às 10 horas da manhã, quando será realizado um seminário sobre as prioridades da saúde na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
A LDO aprovada pelo Legislativo paulistano em 7 de julho prevê a implantação de apenas uma UBS em toda a cidade no ano de 2011. Mas, como o secretário municipal da Saúde foi convidado para o evento, as entidades entendem que será uma boa oportunidade para reivindicar novamente da Secretaria e dos vereadores a implantação dos equipamentos necessários.
A Subprefeitura da Cidade Ademar informou em seu último boletim que a nova unidade de saúde do Jardim Miriam terá sua obra iniciada no final deste ano. As organizações, entretanto, reforçam a importância de ampliar a mobilização da sociedade para que desta vez o equipamento de saúde saia do papel.