Mais pobres serão mais prejudicados, dizem eles.
Por José Eduardo Mendonça
Os catadores de lixo que trabalham em depósitos de resíduos pelo mundo e reciclam diariamente milhares de toneladas de metal, papel e plástico, protestam contra a ONU, que segundo eles está tirando seu trabalho e aumentando as emissões que mudam o clima.
A queixa deles, ouvida ontem em Bonn, onde as discussões sobre a mudança do clima da ONU foram reiniciadas, é que o mecanismo de desenvolvimento limpo (CDM), um ambicioso plano de financiamento para reduzir a emissão de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento, levou à construção de dezenas de incineradores gigantes para transformar lixo em energia, assim como à criação de centenas de novos depósitos de lixo destinados a coletar gás metano.
"Os catadores de lixo, algumas das pessoas mais pobres do mundo, recuperam materiais recicláveis. São empreendedores invisíveis na linha de frente da mudança do clima, ganhando a vida com recuperação e reciclagem, reduzindo a demanda por recursos naturais”, disse Neil Tangri, diretor do Gaia, uma aliança de 500 grupos anti-incineração em 80 países.
"Mas eles estão sendo prejudicados pelos projetos CDM, que negam sua entrada nos lixões”, ele afirmou. Os catadores de lixo lidam com as crescentes montanhas de resíduos de países em desenvolvimento. Quase 60% do lixo de Nova Delhi, por exemplo, é reciclado por um exército de milhares de catadores que procuram materiais recicláveis nos lixões da cidade.
"Estes trabalhadores prestam um serviço público, e de graça. Os construtores de incineradores estão roubando os mais pobres dos pobres”, disse Bharati Chaturvedi, diretor da ONG indiana Chintan, que trabalha com catadores e se opõe à construção de um incinerador gigante en Delhi com dinheiro de CDM, relata o Guardian.