“Será possível limpar o Rio de Janeiro em 24 horas?” – Mercado Ético

 

Isabel Capaverde, da Plurale em revista

A ideia é ambiciosa e foi exportada da Estônia, país do leste europeu. Foi lá que surgiu o movimento Let´s Do It!, liderado pelo empresário Rainer Nõlvak que conseguiu a proeza de limpar seu país em um único dia em maio de 2008. Rainer contagiou cerca de 4% da população do país de pouco mais de 1,3 milhão de habitantes, num trabalho voluntário para recolher todo lixo. O sucesso da empreitada chamou atenção da mídia e Rainer passou a ser procurado por outros países interessados no seu know-how. É o caso da ONG Atitude Brasil e parceiros que pretendem replicar a ideia por aqui em 2011, no projeto que ganhou o nome de Limpa Brasil. A primeira cidade brasileira a passar pela faxina será o Rio de Janeiro. Tarefa nada fácil, levando em conta que o Rio tem mais de 6 milhões de habitantes com o péssimo hábito de descartar o lixo em qualquer lugar, menos dentro da lixeira. O problema é tão grave que instalado nas areias da praia de Copacabana existe o lixômetro, um medidor eletrônico que marca a quantidade de lixo recolhida por mês nas ruas, praias, parques, praças, florestas. As toneladas já estão na casa dos cinco dígitos. Vem daí a dúvida: será possível limpar o Rio em 24 horas?

Rainer esteve no Brasil recentemente. Veio convidado para falar num evento de comunicação e sustentabilidade e também para lançar as sementes do projeto Limpa Brasil. Simpático, estava encantado com o Rio e com a energia dos brasileiros. Era sua primeira vez no país. Aliás, primeira vez também que visitava um país que iria realizar o projeto. Nem na Lituânia, país vizinho ao seu, e que também exportou o Let´s Do It ! (em português “Vamos fazer”) ele esteve. Explicou que são os países que o procuram e não o contrário. Mas quando tudo começou, ele queria apenas limpar as belas florestas de coníferas da Estônia. Jamais imaginou que as coisas tomassem essa proporção e que fosse praticamente abandonar sua vida de empresário de tecnologia e dedicar seu tempo ao movimento ambiental. Hoje seu sonho é limpar o planeta.

O modelo de limpeza bem-sucedido do estoniano envolveu organizações, governo, iniciativa privada e voluntários. Foram oito meses de muito trabalho até o dia “D”. Primeiro foi preciso formar uma equipe para estruturar e organizar tudo, depois mapear o lixo do país, em seguida passaram para a fase de mobilização que contou com a participação de artistas e personalidades da Estônia. “Vieram voluntários até de outros países da Europa”, conta. Além da Lituânia, também Romênia e Portugal passaram pela faxina. E estão agendadas limpezas na Índia e conversações com o México. Durante a estada no Brasil, Rainer revela que pessoas da Guatemala também mostraram interesse. “Os países que nos procuram tem liberdade de fazer do seu jeito. Portugal, por exemplo, antes do dia “D” fez pequenos pilotos em aldeias. Em Nova Déli, na Índia, como eles querem limpar 300 bairros estão procurando 300 empresas para que cada uma se responsabilize pela coordenação de um bairro”. Detalhando melhor como funciona o movimento, revela que hoje eles mantém uma espécie de grupo de discussão pela Internet, onde profissionais dão suporte em todas as etapas do projeto, do engajamento das pessoas que irão coordenar, passando pelo mapeamento dos locais onde há lixo, até chegar ao recrutamento dos voluntários. Conforme outros países vão fazendo a limpeza, novos profissionais e experiências se agregam a essa lista. Acaba sendo quase uma obrigação moral ajudar os demais.

Indagado como resolver a nossa falta de cultura do voluntariado – estimativas indicam que somente para limpar o Rio será preciso cerca de 150 mil voluntários – ele desmistifica a Europa, que julgamos tão adiantada nesse quesito. “Na Romênia eles tiveram o mesmo problema. A maioria dos voluntários que limpou o país era da Áustria. Os romenos achavam absurdo fazer esse trabalho de graça”. Sua sugestão para entusiasmar a participação é ao mapear o local do lixo, mostrar esse lugar para quem mora próximo dele. Segundo Rainer, a pessoa se anima se pensar que terá a praia, o parque, o rio, o lugar onde ele passa todo dia ou vai se divertir limpo. E vai mais longe: acredita no Rio e no Brasil em geral, por já existir a figura do catador de lixo que vive da reciclagem, esse trabalho será ainda muito mais fácil.

Outra dúvida que surge é sobre a manutenção dessa limpeza. A Estônia permanece limpa? “Existe uma organização dentro do governo que monitora isso. É claro que eles não podem estar em todos os lugares, o tempo todo. Mas nunca mais tivemos aquela infinidade de lixo pelo país. Também temos multas para quem é pego jogando lixo. Multas que podem chegar a dois mil dólares”. Mas Rainer insiste que o projeto só dará certo se além dos voluntários, o governo brasileiro estiver totalmente envolvido. E lembra que o objetivo do movimento não é somente limpar, mas mudar a atitude da população e conscientizar sobre os problemas ambientais.

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