Levantamento inédito realizado pela Folha revela os horários e o dias em que a cidade mais registra homicídios
Para especialistas em segurança, trata-se do momento em que as pessoas costumam estar sob o efeito do álcool
ANDRÉ CARAMANTE
AFONSO BENITES
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
Das 23h à 0h. Foi nesse intervalo do dia que ocorreram mais homicídios no primeiro semestre na cidade de São Paulo. As informações constam de um levantamento inédito feito pela Folha a partir da base de dados da polícia.
De 639 crimes analisados -97% dos 660 casos contados pelo Estado-, 48, ou 7,8%, ocorreram nessa hora.
Para policiais e especialistas em segurança, trata-se de um momento em que as pessoas, quando juntas, não raro estão sob efeito do álcool.
De acordo com o delegado Marcos Carneiro, considerado pelos colegas um estudioso das dinâmicas de crimes, boa parte dos homicídios ocorre por motivos banais.
"Porque a pessoa estava com a camisa de um time, ou xingou de corno", afirma ele.
Se o recorte é a semana, domingo é o dia que registra mais assassinatos: foram 110 casos no período, ou 17,2%. Depois vêm sexta e sábado.
Isso ocorre porque, com o fim de semana, as pessoas saem mais de casa a fim de se divertir, dizem especialistas, que citam, de novo, o fator álcool como preponderante.
DIA DE JOGO
Outro dado relevante é o alto índice de homicídios nas noites de quarta-feira.
Tanto Carneiro quanto o chefe do departamento que investiga homicídios na capital, Marco Antônio Desgualdo, apontam para a possibilidade de os crimes terem alguma ligação com o calendário esportivo. "Na quarta tem o futebol", diz Desgualdo.
O secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, também acredita haver uma relação entre as partidas de futebol e os crimes.
"A população também pode estar ficando mais nos bares", diz. "Não há nada de errado nisso. Mas a situação amplia o número de gente nas ruas e aumenta a possibilidade de crimes ocorrerem."
Segundo Lima, a polícia usa a inteligência -dados de horários e dias- para distribuir seu efetivo. Como o homicídio é dinâmico e ligado a questões interpessoais, a melhor forma de combatê-lo é desarmando a população.
Procurada, a Polícia Militar não quis comentar o levantamento feito pela Folha.