Alexandre Gonçalves – O Estado de S.Paulo
Estudo traça raio X das ciências da vida na cidade e aponta o que falta para a capital aumentar sua importância na área
A cidade de São Paulo reúne todos os requisitos para se tornar um polo mundial de atividades ligadas às ciências da vida humana. Com 15,4% dos pesquisadores brasileiros na área de medicina, responde por 30,3% da produção científica nacional. Além disso, abriga 10 mil empresas do setor e contribui com 12,8% das internações para procedimentos de alta complexidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
Os dados são de um levantamento da Fundação Seade que será divulgado hoje. Mas o relatório também enumera os principais problemas enfrentados pelo setor na cidade: carência na oferta de serviços para determinados problemas de saúde, demanda reprimida de atenção básica que sobrecarrega hospitais universitários, falta de contato entre academia e indústria, etc.
Dezenas de profissionais de institutos de pesquisa, universidades, agências de fomento e empresas foram entrevistados para traçar o diagnóstico das atividades em ciências da vida, encomendado pela Prefeitura.
Até agora, o setor caminhou sem uma política pública coordenada. "Para criar uma política assim, é necessário primeiro mapear o que existe", afirma Maria Aparecida Orsini de Carvalho, assessora especial da Prefeitura. "Com o levantamento pronto, podemos traçar estratégias para potencializar o setor."
O objetivo é fomentar iniciativas semelhantes ao Biopolo de Lyon, na França, ou o Aglomerado de Ciências da Vida de Montreal, no Canadá: projetos de expressão internacional, conduzidos por governos, que transformam ideias em riqueza.
Maria Aparecida afirma que será criado um portal para colocar todos os atores – pesquisadores, políticos e empresários – em contato.
Para Jorge Kayano, do Instituto Pólis, a ideia merece elogios. "Pode ajudar a superar o déficit comercial brasileiro de US$ 7 bilhões nessa área", afirma o pesquisador. "Mas precisamos evitar um descolamento dos investimentos das necessidades da população."
Há 31,6 leitos em São Paulo para cada 10 mil habitantes. No Brasil, são 26,9. O número de leitos complementares de UTI – de maior complexidade – é duas vezes maior em São Paulo. Mas os leitos obstétricos e pediátricos paulistanos estão em um patamar inferior à média do País.
Ana Fernandes, da Universidade Federal de Pernambuco, colaboradora da pesquisa, sublinha a necessidade da criação de um sistema de inovação e não só um conglomerado de instituições. "São Paulo tem condições de fazer isso."
Participação
20% dos grupos brasileiros de estudo em imunologia estão na cidade
52% da produção nacional científica em fonoaudiologia vem da capital
24% dos estudos em farmacologia nascem em instituições paulistanas