Nove dos 31 subprefeitos de São Paulo é coronel da Polícia Militar, aponta levantamento do “MTV na Rua”
Pedro Marcondes de Moura
Não estranhe a cena de um policial militar batendo continência dentro de uma subprefeitura. Levantamento realizado pelo “MTV na Rua” aponta que 9 dos 31 subprefeitos de São Paulo – ou 29% do total – são coronéis da reserva. Entre os chefes de gabinete, o número é ainda maior: 15 oficiais da Polícia Militar (PM) ou do Corpo de Bombeiros ocupam o cargo na cidade.
O secretário municipal de Coordenação das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, diz não haver uma preferência por policiais militares na escolha dos administradores regionais. “Nós levamos em conta a experiência e a capacidade administrativa [dos representantes]. O importante é ter perfil e histórico curricular”, explica.
De acordo com Camargo, o trabalho dos subprefeitos fardados em nada se diferencia dos outros 22 colegas na mesma função. “Todos os nove subprefeitos coronéis são reformados e, antes de tudo, têm um perfil executivo. Além disso, todos eles têm que estar disponíveis em tempo integral.”
O secretário, entretanto, admite um estreitamento nos laços entre a atual gestão municipal e a PM (leia entrevista aqui). Como exemplo, ele cita as operações delegadas, em que membros da PM são contratados pela prefeitura para trabalhar no combate ao comércio ilegal durante a folga, conhecido como bico oficial. “É, sem dúvida, um dos grandes projetos em andamento.”
O especialista em administração pública Rogério Bezerra da Silva, da Unicamp, não concorda que o perfil de gestão de um militar e de um civil sejam iguais. “A escola de formação militar oferece uma visão totalmente diferente para a pessoa. Os oficiais têm uma visão mais corporativa, hierarquizada e centralizada do que profissionais com outras origens e outra formação”, explica Bezerra. Para o especialista, isso pode significar um ganho em alguns aspectos da gerência, como um controle mais efetivo. Porém pode representar perdas no olhar social sobre problemas da cidade.
“Houve uma época em que a maioria dos cargos [nas subprefeituras] era ocupada por ex-prefeitos do interior. Agora chegou a vez dos coronéis”, diz Maurício Piragino, um dos diretores da Escola de Governo de São Paulo, indicando que de tempos em tempos o perfil dos subprefeitos muda.
Para Piragino, os subprefeitos deveriam ser escolhidos pelos moradores da região que representam ou, pelo menos, ser referendados por eles. Com isso, o “candidato” poderia ter sua proximidade com a região posta à prova. “A cidade de São Paulo é muito complexa para uma pessoa vir de um ponto para administar outro.” E complementa: ‘‘Para compreender a realidade local, um gestor gasta quase seis meses”.
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