VANESSA CORRÊA
DE SÃO PAULO
Moradores da Vila Ema (zona leste de SP) estão se mobilizando para tentar impedir que uma área verde usada pela população vire um conjunto de prédios.
Lá, na pequena chácara ocupada por uma família de imigrantes alemães, as crianças apanhavam frutas e casais celebravam seus casamentos. Apesar de ser área privada, o lugar sempre foi usado pela população, com o consentimento dos donos.
A falta de áreas verdes, cada dia mais disputadas pelo mercado imobiliário, levou os moradores a se organizar para preservar as 477 árvores que ocupam o terreno de 16.804 m2.
Fernando Sálvio, 27, nascido no bairro, montou um blog sobre o movimento e já colheu cerca de 1.500 assinaturas entre moradores a favor da criação de um parque no local, que fica a sete quilômetros do centro de SP.
A ideia é entregar o abaixo-assinado à prefeitura, que já aprovou a construção de quatro torres com 400 apartamentos no total. O terreno foi comprado em 2008 pela construtora Tecnisa. A construtora instalou portões.
A Folha esteve no local com o ambientalista Ricardo Cardim, descobridor de um remanescente de campo cerrado no Jaguaré que virou parque. Para ele, o lugar é "uma relíquia vegetal" de mata atlântica, de "grande importância para a biodiversidade e a fauna urbana".
Ele avalia que cerca de 70% das árvores são nativas.
No projeto apresentado pela Tecnisa, está prevista a retirada de 135 árvores sadias, 29 mortas e a realocação de 50. Sobrarão em seu estado original 55% do total.
A Tecnisa afirma que a obra já foi aprovada pela Secretaria da Habitação e aguarda parecer do CET. O projeto foi aprovado na Secretaria do Verde, mas, devido à pressão popular, entrou novamente em análise, segundo a própria construtora.
As secretarias confirmaram as informações. A do Verde diz que a empresa foi multada em R$ 30 mil por ter removido três palmeiras. A Tecnisa diz que entrou com recurso e a multa foi anulada, já que as palmeiras tinham sido plantadas por ela.
Em junho, o prefeito Gilberto Kassab enviou para a Câmara projeto de lei para alargar a rua Batuns e viabilizar o empreendimento, publicado no "Diário Oficial".
Ivani Sachi, que mora a poucos metros da área, diz estar preocupada. "É a última área verde que temos."