Estudo aponta problemas e soluções para SP devido às mudanças climáticas


Investimento em transporte sobre trilhos em integração com outros modos de transporte, aumento na quantidade de áreas verdes, redução nas emissões de gases de efeito estufa e controle na liberação de novos empreendimentos que levam à maior impermeabilização do solo são algumas das  medidas sugeridas por um estudo sobre a vulnerabilidade da cidade de São Paulo às mudanças climáticas. Outras medidas são o programa de despoluição da bacia do Rio Tietê e a revisão do sistema de drenagem por meio da integração de diversos órgãos envolvidos, como prefeituras da região metropolitana, defesa civil, CETESB, Sabesp, Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).

O estudo é resultado do Painel Internacional Megacidades, Vulnerabilidade e Mudanças Climáticas Globais, que ocorreu em julho. O relatório preliminar com as sugestões foi apresentado em São Paulo, nesta quinta (26/11), em workshop organizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e Unicamp. O relatório final será apresentado em março.

O levantamento identifica fenômenos de alteração do clima e problemas decorrentes, como ondas de calor, aumento na intensidade das chuvas e de descargas elétricas, períodos de seca, episódios agudos de poluição do ar, enchentes, escorregamentos e assoreamento dos rios que cortam a cidade. O relatório também menciona diversos problemas de saúde que afetam a população devido às chuvas fortes e à poluição do ar, como infecções gástricas, leptospirose, problemas respiratórios – asma e alergias, por exemplo – e ataques cardíacos.

O diretor do Inpe, Carlos Nobre, explicou que em São Paulo convergem dois fenômenos de aquecimento que provocam alterações no clima: o aquecimento local, as chamadas "ilhas de calor", e o aquecimento global, que resulta de mudanças na atmosfera da Terra.

O aquecimento local é observado, por exemplo, na diferença de temperatura entre a periferia e o centro expandido da cidade – este registra uma média de 2,5 graus a mais, que pode chegar a 5 graus em dias quentes e secos. O nível da temperatura acompanha a densidade de ocupação do solo – a periferia é menos quente porque também é menos ocupada e, portanto, tem mais espaços de área permeável. 

Outro efeito do aquecimento é o aumento de descargas elétricas na ordem de 40 a 50% nos últimos 50 anos. “As descargas só perdem para enchentes e escorregamentos nas encostas em causa de mortes”, disse Nobre.

Nobre destacou que a cidade não se preparou para essas mudanças. “Os planos contra enchentes e de contenção de deslizamentos até agora são reativos e não preventivos, e não levaram e consideração que o fenômeno [de aquecimento e de intensidade das chuvas] ia aumentar”, alertou Nobre.

No entanto, o pesquisador apontou avanços, como a aprovação recente das leis de mudanças climáticas no município e no Estado e as metas de redução na emissão de gases de feitos estufa anunciadas pelo governo federal.

O estudo leva para o centro do debate a figura do homem como vítima do próprio impacto que causa no planeta, afirmou o pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP Paulo Saldiva, no workshop. “Antes a discussão ambiental mostrava a foca, a tartaruga, o rio como vítima. Agora está todo mundo no mesmo barco”.

Para Saldiva, os riscos trazidos pelas alterações no clima podem gerar uma pressão social com um desfecho positivo. “Os riscos talvez nos deem força para pensar, pela primeira, vez em planejamento [da cidade].”

REPORTAGEM: PAULA CREPALDI paula@isps.org.br

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