Cristiane Bomfim e Tiago Dantas
O Jornal da Tarde visitou 42 unidades de ecopontos na semana passada e flagrou lixo amontoado no entorno de 20 deles. Cinco estão desativados – quatro na zona sul, a segunda região mais populosa da cidade (veja alguns exemplos mais abaixo).
Lixo despejado no entorno, falta de divulgação do serviço e horário de funcionamento irregular são as principais queixas registradas nesses pontos de entrega voluntária, criados para solucionar o problema do descarte de entulho na cidade.
Moradores também reclamam que não têm onde colocar gesso, telhas de amianto e pneus, já que esses materiais não são aceitos nos ecopontos.
Até 2012, a Prefeitura de São Paulo promete construir 61 pontos de entrega voluntária de entulho, material reciclável e volumosos, como está previsto no plano de metas da administração de Gilberto Kassab (DEM). Cinco unidades foram abertas neste ano.
A Secretaria de Serviços informou que a expectativa é inaugurar outras 11 até dezembro. A pasta relatou que, entre janeiro e julho, foram entregues 8.200 m³ de entulho por, mês em média.
A Prefeitura garantiu que os ecopontos Carlito Maia e Vila Nova Cachoeirinha terão energia elétrica em breve. Quanto à divulgação dos serviços, afirmou que é feita nos Boletins das Subprefeituras, por meio de panfletos e pelo site da Prefeitura.
Um dos fatores que levam ao despejo nas ruas é a recusa dos ecopontos em receber gesso e telhas de amianto. “As pessoas não querem ter custo para descartar o lixo. Se o ecoponto se recusa a receber, o lixo vai para as calçadas”, diz o presidente do Instituto Brasil Ambiente, Sabetai Calderoni.
Doutor em ciências pela USP, Calderoni afirma que os ecopontos funcionam “pela metade”. “Não adianta receber e não dar destinação correta”, diz. Ele cita que o entulho que é levado pela Prefeitura para um aterro poderia ser reaproveitado. “Há muitas utilidades. Poderia ser usado como matéria prima para construção de pontos de ônibus ou postes. Também na construção civil e no asfaltamento de ruas”.
Para o coordenador de tecnologia em gestão ambiental da PUC-SP, Geraldo Borin, os ecopontos são boas alternativas contra o despejo irregular, mas é preciso regras que sirvam a todas as unidades, além de publicidade. “Tem de ter padrão, além de abrir no fim de semana para atender melhor a população.”
Entre maio de 2009 e junho de 2010, a Prefeitura pagou cerca de R$ 17 milhões a empresas terceirizadas para transportar entulho. O dinheiro seria suficiente para construir 141 ecopontos, que custam em média R$ 120 mil. A Prefeitura alega que esses números podem se referir também à retirada de entulho dos ecopontos, já que não há uma dotação no orçamento só para coleta na rua.
ECOPONTOS
A zona sul concentra as unidades com mais problemas. Na zona leste, as queixas mais comuns são ainda a falta de hábito da população de usar o serviço. Mas há também bons exemplos. Confira alguns ecopontos:
Alvarenga, na Cidade Ademar – fechado desde dezembro. Parte do entulho que poderia ir para o local é jogada em um braço da Represa Billings, do outro lado da rua. “O povo não tem educação. Não tem outro ecoponto perto”, disse o marceneiro Francisco Tenório, de 32 anos.
Parque Fernanda, região do Capão Redondo – o terreno ao lado do ecoponto virou um lixão a céu aberto e foi incendiado duas vezes em 15 dias. Moradores dizem que o funcionário que cuidava do local abandonou o emprego há três semanas. “Virou uma bagunça”, disse o pedreiro José Silva, de 52 anos. A Prefeitura informou que a situação está normalizada.
Cipoaba, no Parque São Rafael – incendiado na madrugada do dia 21. Os muros estão desmoronando e o lixo no entorno é comum nos fins de semana. “Dá até desânimo. A Prefeitura não divulga e as pessoas também não se interessam”, reclamou a aposentada Maria de Jesus Salvador, de 71 anos.
Pedro Nunes, em São Miguel – recém-inaugurado, o responsável fecha na hora do almoço e não reabre depois.
Alceu Maynard de Araújo, em Santo Amaro – também fecha para almoço. A Prefeitura diz que o funcionamento é normal.
Ecoponto da Vila Madalena – aberto em julho de 2009. Tem o entorno limpo e organizado. “A gente conta com a colaboração dos moradores”, disse um funcionário.
Recanto dos Humildes, em Perus – também é bem cuidado. Os funcionários fizeram um jardim na frente. “Ficava cheio de lixo. Agora está bem melhor”, elogiou a dona de casa Regiana Macedo, de 36 anos.