Estudos recém-divulgados mostram que a cidade bate recorde quando o assunto é tempo perdido no congestionamento; 67% dos entrevistados consideram que o tráfego piorou nos últimos anos; 57% apontam os efeitos negativos para a saúde
Deise Machado de Oliveira
Para cidadãos de algumas das maiores metrópoles do mundo, deslocar-se de casa para o trabalho, e vice-versa, é uma viagem cada dia mais difícil de ser cumprida. Levantamento publicado no site da revista Foreign Policy (www.foreignpolicy.com), dos EUA, no último dia 24, mostra São Paulo como o quarto pior trânsito do mundo, só atrás de Pequim, Moscou e Cidade do México.
São Paulo é destaque também em uma radiografia feita pela IBM em vinte metrópoles do mundo. O estudo, divulgado em junho, entrevistou 8.192 motoristas e mostra que a cidade tem o sexto trajeto casa/ trabalho mais penoso do mundo.
Dos paulistanos entrevistados, 61% consideram que o trânsito vem piorando e, desses, 26% acham que piorou muito nos últimos três anos; 73% avaliam que sua saúde foi afetada pelo trânsito e 55% revelaram aumento do estresse.
O tráfego caótico prejudicou também o desempenho de 38% na escola ou no trabalho. Em Pequim, na China, e Nova Déli, na Índia, esse índice foi ainda maior: 95% e 96%, respectivamente.
"O trânsito causa danos físicos e psicológicos", explica a diretora do departamento de psicologia do tráfego da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Raquel Almqvist. De acordo com ela, os problemas físicos são, em sua maioria, causados pela poluição, seja a sonora ou do ar; já os psicológicos estão em sua maioria relacionados ao estresse causado pela longa espera: "Com o aumento da frota, ampliam os congestionamentos que geram atrasos, irritação, raiva. A raiva acumulada é o que leva ao estresse e o estresse leva à uma série de problemas, inclusive, às reações agressivas que, geralmente, vão explodir onde? No próprio trânsito".
Para Raquel, há solução a médio prazo: transporte coletivo de qualidade. "Muita gente ainda prefere usar o próprio carro nas metrópoles como São Paulo, O que precisamos é de incentivo para que elas passem a usar mais o transporte público para se deslocar. E esse incentivo só pode vir na forma de um transporte público de qualidade, mais confortável, mais seguro, com um número maior de horários disponíveis", diz.
Motoristas não acreditam em melhorias
Para ir de casa ao trabalho e voltar, a técnica de enfermagem Maria Madalena do Carmo gasta mais ou menos duas horas, todos os dias. "Isso quando não levo uma hora e meia só para ir. Sempre tenho que sair bem mais cedo de casa para não me atrasar. Não vou me acostumar nunca", diz.
Escutar música é uma das alternativas que ela encontra para enfrentar a situação. "O trânsito em São Paulo desgasta muito e parece não ter solução. Tomar ônibus é pior ainda", resume.
O taxista José Vieira de Andrade, 29 anos, concorda. Ele gasta, em média, quatro horas de seu dia parado no trânsito. Problemas de saúde, propriamente, ele afirma não ter. "Mas sinto dor de cabeça e muitas dores na coluna, geralmente no fim da tarde", conta.
Por trabalhar com vendas e usar muito o carro em seus deslocamentos pela cidade, o engenheiro Luiz Carlos Rossi, 60 anos, gasta pelo menos duas horas do dia no trânsito. "Com o trânsito até certo ponto a gente se acostuma. O duro é aturar a dobradinha poluição mais congestionamentos", salienta. Os semáforos de São Paulo são um dos principais problemas apontados pelo engenheiro no trânsito da cidade. "Precisamos de um investimento maior em engenharia de trânsito, em sistemas mais inteligentes, além, é claro, de apostar em alternativas em termos de transporte público", analisou.
Recorde certo, números errados
O site Foreign Policy indica que São Paulo é a cidade que detém o recorde de maior congestionamento do mundo. Ele foi registrado, afirma, em 9 de maio de 2008 e equivale a 165 milhas ou ou 265 quilômetros. 293 Km de congestionamento é o verdadeiro recorde histórico de São Paulo, segundo a CET, e ele foi registrado em 10 de junho de 2009.
Ritmo de tartaruga nas ruas da capital russa
Moscou chamou a atenção também pelos congestionamentos na pesquisa da IBM. Na capital russa, nos últimos três anos, congestionamentos chegaram a retardar os motoristas em até duas horas e meia.
Satisfação típica de Primeiro Mundo
Nem só de espinhos é feito o trânsito no mundo. Em Estocolmo, Suécia, só 14% dos entrevistados acham que o trânsito prejudicou seu desempenho na escola ou no trabalho.