Por Valéria Dias – valdias@usp.br
Pesquisas realizadas no Laboratório de Limnologia do Instituto de Biociências (IB) da USP revelam que os sedimentos das represas Guarapiranga e Billings, na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), apresentam uma quantidade elevada de metais pesados como cádmio, chumbo, cobre, zinco, níquel e cromo, o que sugere uma alta toxicidade do sedimento. “Os resultados de nossos estudos devem ser encarados como um alerta para os órgãos públicos, pois eles deveriam ficar mais atentos à qualidade dos sedimentos dessas represas”, aponta o professor Marcelo Pompêo, do Departamento de Ecologia do IB, que coordenou uma série de pesquisas sobre a concentração de metais pesados nos sedimentos dessas represas.
Segundo o professor, os metais pesados ficam presos ao sedimento, pois este contém grande quantidade de sulfeto e de matéria orgânica, fato que impede que esses elementos cheguem até a água. “Entretanto, em algumas situações, se houver uma mudança de pH e alterações nos níveis de oxigênio, eles poderão atingir a água por meio da ação dos ventos. Isso pode ser preocupante em virtude dos altos níveis de metais pesados que detectamos em nossas análises”, explica.
Pompêo informa que o monitoramento dos sedimentos já é realizado, mas existe a necessidade de aumentar os pontos de coleta do material e a frequência com que isso é feito, além de ações para ampliar a captação e o tratamento de esgotos. “Trata-se de um problema de gestão de nossos recursos hídricos”, destaca.
Segundo Pompêo, os metais pesados são encontrados naturalmente na natureza. “Há um estudo determinando valores de referência para a bacia hidrográfica do rio Tietê sugerindo que seus teores variem de acordo com a formação geológica de cada lugar”, lembra. No entanto, a interferência humana decorrente da construção de casas no entorno de represas, e as atividades de mineração, de agricultura e a presença de indústrias provoca a alteração desses valores. “O esgoto doméstico e industrial e os resíduos sólidos são levados para a represa pelas águas das chuvas. Constatamos que os níveis de alguns metais estão muito superiores, tanto em relação aos valores de referência como também da Agência Canadense do Meio Ambiente (ACMA)”, afirma.
Pesquisas
Em 2006, a pesquisadora Carolina Fiorillo Mariani, com orientação do professor Pompêo, desenvolveu um mestrado em que constatou que os teores de cobre e de chumbo presentes no sedimento do braço Rio Grande (Complexo Billings) foram da ordem de 9 e 8 vezes, respectivamente, acima do valor máximo definidos pela ACMA para indicar toxicidade.
Já a pesquisadora Paula Regina Padial constatou em seu mestrado, apresentado em 2008 ao IB, que na Guarapiranga há forte concentração dos metais no sedimento em alguns locais, e os maiores teores estão próximos à barragem e ao sistema de captação de água bruta da Sabesp. “Nessa porção do reservatório as concentrações médias de alguns metais atingiram valores de 4, 11 e 6 vezes acima da concentração de referência para toxicidade para cádmio, cobre e cromo, respectivamente, sugerindo elevado potencial de toxicidade desse sedimento. Para alguns pontos específicos, as concentrações de cobre atingiram níveis de até 15 vezes o valor de referência para toxicidade”, conta.
De acordo com o professor, esses elevados teores de cobre podem ser atribuídos ao constante uso de algicida a base do agrotóxico sulfato de cobre, que há cerca de 20 anos é utilizado para o controle do crescimento de algas potencialmente tóxicas, as cianobactérias. Segundo Pompêo, ao longo do ano de 2008 foram aplicados cerca de 350 toneladas de sulfato de cobre nas águas da Guarapiranga.
A pesquisadora Carolina Fiorillo Mariani continuou pesquisando o braço Rio Grande e, em 2010, defendeu seu doutorado. O trabalho mostrou que os teores de metais encontrados no sedimento localizado na porção em frente ao Parque Municipal Estoril e a estação de captação de água bruta da Sabesp, em São Bernardo do Campo, atingiram valores acima da concentração de referência para toxicidade até cerca de 30, 9, 5 e 8 vezes para cobre, cádmio, cromo e níquel, respectivamente.
Preservação e custo da água
Pompêo têm realizado vários estudos na represa de Paiva Castro, na região de Mairiporã, na RMSP. Segundo o pesquisador, a qualidade da represa pode ser considerada boa, entretanto, já é necessário realizar aplicações de sulfato de cobre para garantir essa qualidade. “Se não forem tomadas medidas para a sua preservação, a represa de Paiva Castro irá apresentar problemas idênticos aos atualmente encontrados na Billings e na Guarapiranga. Se daqui a dez ou quinze anos a qualidade dos sedimentos for semelhante a dessas duas represas, o custo do tratamento da água da Paiva Castro será de 4 a 5 vezes superior ao que é hoje”, alerta.
Outra sugestão do professor é o fortalecimento da legislação e sua real implantação por meio da constituição de zonas de amortecimento para as massas de água. “Esta zona de amortecimento, constituída de uma faixa de vegetação localizada entre a massa de água e a região do entorno, serviria como um filtro, reduzindo o efeito da entrada de fontes dispersas constituídas de inúmeros compostos químicos empregados em diversas atividades, principalmente na agricultura.”