Paulistanos querem que poder público dê prioridade ao transporte coletivo

 

De acordo com dados da pesquisa de percepção dos cidadãos, 67% da população demanda esta mudança. Movimento e vereadores comentaram levantamento

Airton Goes airton@isps.org.br 

“A sociedade está demandando uma grande mudança, por parte das autoridades, em relação ao transporte e à mobilidade”. Esta foi a avaliação de Oded Grajew, coordenador do Movimento Nossa São Paulo, sobre os dados da pesquisa que revela a percepção dos cidadãos sobre diversos temas relacionados ao trânsito, à poluição e locomoção na cidade. O levantamento, divulgado nesta quinta (16/9) na Câmara Municipal, aponta que 67% dos paulistanos querem que o poder público priorize o investimento em transporte coletivo.

Entre os sistemas de transporte coletivo que deveriam ser priorizados pelos governantes, segundo os dados, estão metrô e trem – mencionados por 68% das pessoas pesquisadas – e corredor de ônibus – citado por 42%. Os dados completos da pesquisa estão disponíveis no portal do Movimento.  

Grajew explicou que o lançamento da quarta edição da pesquisa na Câmara Municipal foi uma tentativa de sensibilizar os vereadores e o governo municipal para as demandas da população registradas no trabalho do Ibope. “Esperamos que o Legislativo e o Executivo aproveitem os dados riquíssimos do levantamento na hora de fazer planos e tomar decisões.”

O coordenador do Nossa São Paulo aproveitou para questionar os vereadores sobre o cumprimento integral da Lei 14.173, que determina à Prefeitura a elaboração e divulgação de uma série de indicadores da cidade. Sancionada pelo Executivo há quatro anos, a maior parte dos indicadores previstos ainda não está disponível, incluindo os relacionados ao transporte coletivo (tempo de espera no ponto, lotação e limpeza dos ônibus, etc). “O que a gente faz para ela [a Lei 14.173] entrar em vigor?”, perguntou Oded aos parlamentares presentes, recomendando a todos os cidadãos: “dêem uma olha na lei”.

Ele também sugeriu que o Legislativo paulistano transforme o Dia Mundial Sem Carro em um dia oficial da cidade, com restrições à circulação de veículos particulares, como já acontece em Bogotá, na Colômbia.

O vereador Juscelino Gadelha (PSDB) respondeu que apresentará a sugestão do Nossa São Paulo para a Comissão de Transporte da Câmara, órgão que preside. “Vamos levar a proposta aos demais integrantes da comissão e, com a justificativa apresentada pelo Movimento, ver se todos assinam um projeto de lei nesse sentido.”

Quanto ao questionamento em relação ao cumprimento da Lei 14.173, o presidente da Comissão de Transporte disse que iria se informar melhor sobre o assunto, para posteriormente dar uma resposta sobre o que os vereadores poderiam fazer para que os indicadores previstos sejam disponibilizados pelo Executivo.

Em suas considerações, Gadelha afirmou que o transporte coletivo deve ter prioridade nos investimentos públicos e destacou o seminário sobre o Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis, que a comissão e Movimento irão promover na próxima segunda-feira (20/9). “Juntos [sociedade, Legislativo e Executivo] vamos tentar construir um plano e, se a gente conseguir isso, resolveremos parte dos problemas de trânsito e transporte da cidade.” O seminário integra a programação de atividades da Semana da Mobilidade em São Paulo, iniciada com o lançamento da pesquisa e que vai até 22 de setembro (Dia Mundial Sem Carro).   

O parlamentar também mencionou os planos dos governos municipal e estadual de implantar três linhas de monotrilho em São Paulo em lugar do metrô. “Vejo uma contradição aqui, pois a Prefeitura quer destruir o ‘Minhocão’ [via elevada para automóveis que liga a Zona Leste à Zona Oeste da cidade] e, ao mesmo tempo, está criando outros ‘minhocões’ na cidade.” O sistema de transporte de monotrilho é construído sobre vias elevadas. Gadelha citou como exemplo destes novos “minhocões” os pilares que já estão sendo colocados na Avenida Anhaia Melo, destinados à implantação da linha de monotrilho que ligará a Vila Prudente à Cidade Tiradentes.

Outro integrante da mesa que conduziu o lançamento da pesquisa sobre mobilidade urbana a citar a questão do monotrilho foi o vereador Goulart (PMDB). “O caminho que o Executivo está seguindo na questão do monotrilho revela que ele não está ouvindo a população e seus representantes aqui na Câmara”, criticou.

Ele concordou com as entidades sociais e moradores que, em diversos debates e audiências públicas, têm se posicionado contra o novo sistema de transporte e reivindicado o metrô. “Conheço bem a região do M’Boi Mirim [onde está previsto a instalação de uma das linhas] e sei que o monotrilho não resolverá o problema de transporte local.”

Na opinião de Maurício Broinizi, coordenador da secretaria executiva do Nossa São Paulo, a pesquisa reafirma a necessidade de mudanças na política de transporte e mobilidade da metrópole. “Depois de quatro edições deste levantamento, que é realizado anualmente, temos certa estabilidade em alguns índices e um deles é a insatisfação dos paulistanos com o trânsito de São Paulo”, aponta. Os dados revelam que 68% dos paulistanos consideram a situação atual do trânsito “ruim” ou “péssima”.

Broinizi antecipou que no seminário sobre o Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis dia 20, o Movimento e outras organizações da sociedade civil e cidadãos irão apresentar um conjunto de propostas para a elaboração de um plano para o setor, que a cidade ainda não tem. “As propostas são fundamentadas nos dados da pesquisa e nas informações da própria Prefeitura”, explicou.

Ele considera que o sistema viário da cidade, atualmente, é prioritariamente oferecido aos automóveis de uso particular. “Queremos inverter esta lógica.” Segundo o integrante do Nossa São Paulo, as propostas que serão levadas ao seminário pretendem fortalecer o sistema de transporte sobre trilho (metrô e trem). “Não podemos continuar errando nesta área de transporte, pois demoramos muito para desenvolver o metrô. Deveríamos ter hoje na cidade de 300 a 400 quilômetros de linhas deste sistema e temos 70”, concluiu.  

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