“Metais pesados na Billings e Guarapiranga” – Jornal da Tarde

 

Felipe Oda

O fundo das represas Billings e Guarapiranga está contaminado com metais pesados. Chumbo, cobre, níquel e zinco são alguns dos elementos químicos encontrados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Segundo eles, a contaminação dos sedimentos pode comprometer a qualidade da água e a exposição prolongada pode provocar câncer. Responsável pelo tratamento da água, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afirma que não há risco para os consumidores.

A contaminação do solo dos reservatórios, que abastecem 4,5 milhões de pessoas na capital e na Grande São Paulo, é atribuída ao esgoto despejado irregularmente por casas e indústrias. Em alguns trechos, os pesquisadores detectaram cobre 30 vezes acima do nível de segurança recomendado por agências internacionais de saúde.

Valores esses que apontam para a possibilidade de intoxicação, diz a pesquisadora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP), da USP, Silvana Cutolo Audrá. “O consumo de água contaminada com metais (pesados) pode acarretar náusea, dor de cabeça e irritações na pele e nas mucosas. Mas a exposição a longo prazo pode ser mais severa, como diminuir a fertilidade, defeitos congênitos e surgimento de câncer.”

Apesar de a Sabesp negar riscos, o biólogo e autor do estudo, Marcelo Luiz Martins Pompêo, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências, da USP, explica que há possibilidade de a água que chega às torneiras das casas ser contaminada. “Quando há mudança no pH (acidez) da água, nos níveis de oxigênio ou por conta da ação dos ventos, metais pesados podem se misturar à água.”
Oito estações da Sabesp fazem o tratamento da água na capital. No entanto, Pompêo diz que mesmo após o processo, parte dos metais pesados ainda se mantém. “Não quer dizer que a água não é potável, mas as estações não foram construídas para essa finalidade (retirar metais pesados).”

Além do monitoramento dos sedimentos pela Sabesp, especialistas alertam para a necessidade de ações de captação e tratamento de esgoto despejado irregularmente. “A contaminação também é decorrente das ocupações irregulares nas áreas de mananciais que lançam esgoto sem tratamento nos reservatórios”, diz o biólogo e ex-funcionário da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) Aristides Almeida Rocha.

Cerca de um milhão de pessoas vivem em áreas de preservação na Billings e Guarapiranga, diz a Secretaria de Habitação. A falta de coleta de esgoto é o principal problema de saneamento, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em agosto. Mais da metade dos domicílios recorre a fossas sépticas, valas a céu aberto ou lança o esgoto em cursos d’água.
Para tentar acabar com o problema, a Secretaria Estadual de Saneamento e Energia lançou o Programa Vida Nova Mananciais. Até 2015, o governo pretende investir R$ 1,3 bilhão com a retirada de famílias que ocupam áreas no entorno das represas, urbanizar favelas e criar redes de esgoto.

“Temos que concluir esse projeto de coleta e tratamento de esgoto e fazer a urbanização de 45 favelas nas regiões da Billings e Guarapiranga”, afirma a secretária da pasta, Dilma Seli Pena.

 Sem riscos
A presença de metais pesados nos sedimentos das represas Billings e Guarapiranga não significa contaminação da água, afirma a Sabesp, em nota. A companhia diz monitorar a “evolução da concentração dos metais nos mananciais utilizados para abastecimento”, sem detectar nenhum risco à saúde da população.

O JT pediu à companhia informações sobre a composição da água após o tratamento. A Sabesp, no entanto, não forneceu os dados, alegando que são muitos os pontos onde é feita a coleta para verificação da qualidade da água. Por isso, a variação de resultados é muito grande. A empresa garantiu, no entanto, que os níveis de metais pesados (quando detectados) ficam dentro dos parâmetros considerados aceitáveis por normas internacionais.

“A remoção de metais pesados é efetuada durante o processo de sedimentação, onde, através da elevação do pH, ocorre a precipitação dos mesmos nas unidades de decantação”, diz nota da Sabesp. Segundo a companhia, caso sejam detectados metais em concentração de risco, “uma anomalia é apontada no relatório da Vigilância Sanitária e são tomadas as ações corretivas”.

“Os padrões e limites de potabilidade para qualidade da água destinada ao abastecimento são estabelecidos a partir de critérios rigorosos e anos de pesquisa, inclusive toxicológica”, informa a nota.
A Sabesp diz que as oito estações de tratamento da capital seguem a legislação nacional, contemplando parâmetros e critérios de potabilidade de portaria do Ministério da Saúde. A tecnologia de tratamento segue modelo recomendado por resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

Colaborou Luiz Guilherme Gerbelli

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