Para entidades, só ações na Justiça e mobilização poderão barrar monotrilho

 

Participantes de audiência avaliam que decisão de implantar novo sistema de transporte já foi tomada. Representante da Prefeitura diz que processo está na fase intermediária

Airton Goes airton@isps.org.br

“Estas audiências públicas são feitas apenas para justificar que a população foi ouvida. É apenas para constar. Já está tudo acertado.” Estas afirmações, feitas por Alberto Singer, da Sociedade dos Moradores do Morumbi, sintetizam a opinião predominante entre as entidades da sociedade civil e cidadãos que participaram da audiência para debater a licença ambiental para a linha de monotrilho que ligará o Jabaquara ao Aeroporto de Congonhas e Morumbi. No evento, realizado nesta segunda-feira (27/9) no CEU Caminho do Mar, em Americanópolis – Zona Sul da cidade –, o próprio Singer explicou porque, mesmo considerando que “já está tudo sacramentado”, acha fundamental que os paulistanos continuem participando do debate. “As autoridades não contavam com esta reação. A cada dia aumenta a indignação da população contra mais esta barbaridade que está sendo imposta.”

Bastante aplaudido pelas 170 pessoas que participaram da audiência, o representante da Sociedade dos Moradores do Morumbi também questionou a isenção da empresa Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental, que apresentou o estudo favorável à concessão da licença ambiental prévia para os trechos 2 e 3 da linha de monotrilho (batizada pelo governo estadual de Linha 17 Ouro do Metrô). “Trata-se de um documento totalmente parcial, por ter sido contratado por uma das partes interessadas”, criticou Singer, após afirmar que “quem contratou e pagou pelo estudo foi o Metrô”, que é a empresa estadual responsável pela implantação do projeto.

Diversos representantes de entidades e cidadãos que falaram na sequência mantiveram o tom de crítica ao novo sistema de transporte e destacaram a necessidade de os moradores das regiões atingidas pelas três linhas de monotrilho previstas pelos governos estadual e municipal se mobilizarem. Outra possibilidade de resistência bastante citada pelos participantes, para tentar barrar os projetos, é o caminho judicial. “Se a Prefeitura continuar com esse movimento autoritário, vamos nos mobilizar e ir ao Ministério Público”, propôs o professor Carlos Giannazi, que é morador do Jabaquara.      

Um dos principais argumentos das organizações e pessoas contrárias ao sistema de monotrilho é que, apesar das audiências públicas, a Prefeitura e o Governo Estadual não estariam levando em consideração a opinião dos moradores. “A gente espera que [os governantes] reconsiderem a decisão e não nos enfiem goela abaixo um projeto que é rejeitado por 90% da população”, protestou Cristina Antunes, diretora da Associação dos Moradores dos Jardins Petrópolis e dos Estados (Sajape).

Do ponto de vista prático, as pessoas e entidades contrárias ao monotrilho dizem que o sistema é de média capacidade de passageiros e, por isso, não atenderia a demanda já existente nas futuras linhas Cidade Tiradentes-Vila Prudente e Santo Amaro-Jardim Ângela-Vila Sonia (os outros dois trajetos propostos pelos governos estadual e municipal). A degradação urbanística dos locais por onde passaria o novo meio de transporte é o principal argumento para rejeitar a proposta da Linha 17 Ouro. Em todas as audiências sobre o tema, a opção preferencial dos moradores tem sido o metrô.

Outra situação denunciada pelos moradores é que as obras previstas na região do Morumbi incluem a desapropriação de uma grande área no entorno do estádio para construir um estacionamento com 1.600 vagas. “O projeto da Linha 17 Ouro foi fortemente influenciado pela possibilidade da Copa de 2014, em São Paulo, ser realizada no Morumbi”, lembrou Ricardo Galassi, integrante do Movimento Morumbi Total. Em sua opinião, com a mudança da sede da Copa para o futuro estádio do Corinthians, na Zona Leste, a obra deveria ser revista.

Das 26 pessoas que se inscreveram para falar, apenas duas defenderam a implantação do sistema escolhido pela Prefeitura e o governo estadual. Uma delas é o engenheiro do Metrô, Emiliano Afonso. “Faço parte da diretoria do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo e do Conselho Tecnológico da mesma entidade”, acrescentou. Afonso disse que apóia o projeto também como morador do Jardim Vitória Régia, situado na região do Morumbi. O outro defensor do monotrilho foi Luiz Cortez, que é um dos representantes do governo no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). Para justificar sua posição, ele citou como exemplo bem sucedido de monotrilho o sistema instalado no Parque da Disney, nos Estados Unidos. Ambos foram vaiados pela maioria dos presentes.

Secretaria diz que processo de liberação ambiental está na fase intermediária 

Em virtude das críticas da população, o assessor especial da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Hélio Neves, afirmou que o estudo de impacto ambiental ainda será analisado pelo Decont (Departamento de Controle Ambiental, vinculado à secretaria) e pela Câmara Técnica do CADES (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), que poderá apresentar sugestões. “Esta aqui não é a fase inicial, nem a fase final do processo. É a fase intermediária”, pontuou.

Neves, que presidiu a audiência, antecipou a realização de novo debate sobre a licença ambiental da Linha 17 Ouro no mês de outubro. “Assim que estiver definido, vamos informar o dia e local. E o que não foi respondido aqui será respondido na próxima [audiência].”

O gerente técnico-administrativo da Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental, Walter Sérgio de Faria, rebateu a insinuação de que o estudo de impacto ambiental apresentado por sua empresa teria sido feito para atender os interesses da companhia contratante. “O relatório envolveu uma equipe de 25 profissionais e foi feito de forma independente. Não é verdade que o estudo foi feito de forma parcial”, disse. Segundo ele, a Walm foi contratada pelo Metrô para realizar o serviço, mediante licitação pública. O valor do contrato não foi revelado.  

Ivan dos Santos, o arquiteto que representou a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), fez uma apresentação sobre o trajeto previsto para a linha do monotrilho, com imagens do futuro sistema de transporte, e defendeu o projeto. “O sistema proposto atende às necessidades da região envolvida”, afirmou. Quanto às preocupações da população em relação à segurança do equipamento, ele informou que as normas técnicas serão plenamente atendidas, garantindo a tranquilidade dos usuários.

 

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