Por Isaac Edington
Certamente todos nós, em algum momento na vida, já ouvimos essa expressão: “… natureza não tem preço…”
De fato, isso não é verdadeiro. A natureza tem preço sim. Entretanto, culturalmente a cabeça do ser humano funciona assim: se não tem preço, não tem valor, e se não tem valor, pouco importa!
Ao longo dos séculos, o ser humano de fato, tratou a natureza como um sistema sem valor, talvez por acreditar de forma instintiva, que era abundante e infinita. Hoje, em pleno século 21, o próprio ser humano descobriu que a natureza tem preço, tem valor econômico e não é infinita.
Segundo o economista Robert Costanza, da Universidade de Vermont, em 1997 a biodiversidade do planeta valia 33 trilhões de dólares. São 44,9 trilhões de dólares, em valores atuais. Para chegar a essa quantia, estimou-se quanto custariam os serviços prestados gratuitamente pela natureza ao homem, como a água limpa, o solo fértil para plantio de alimentos, a purificação do ar pelas florestas, a polinização e outros recursos naturais sem o qual não existiríamos.
Em 2007, em um encontro do G8, o grupo dos oito países mais ricos do mundo, em Potsdam na Alemanha, decidiu-se que era necessário criar um painel responsável por calcular o custo dos danos ao ambiente causados pelo homem. O indiano Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank, foi convidado para coordenar esse projeto, chamado de A economia dos ecossistemas e da biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês) e vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
De acordo com o TEEB, as perdas anuais referentes destruição das florestas, mananciais e da vegetação dos mangues representam entre 2,5 trilhões e 4,5 trilhões de dólares. Esse cálculo foi feito com base no valor atual dos serviços que esses recursos naturais prestam ao homem, como ar puro, água doce, produtos florestais, turismo ecológico, potencial biológico das espécies, prevenção de inundações e controle de secas. Citando outro exemplo, um serviço ambiental crucial para a produção global de alimentos, a polinização, é avaliada em 540 bilhões de dólares e o prejuízo anual estimado é de 15 bilhões, causado pela redução das colméias nos Estados Unidos.
Os números relatados pelo TEEB são impressionantes, e muito importantes para ampliar a compreensão de todos quanto a importância dos serviços da natureza para a nossa sobrevivência. A grande maioria da população que vive em grandes metrópoles e não se dá conta de que as cidades dependem da natureza – e os serviços ambientais podem proporcionar soluções muito efetivas para graves problemas.
Existem diversos exemplos ao redor do mundo a esse respeito. Um dos exemplos mais bem-sucedidos de pagamento por serviços ambientais vem de uma grande metrópole. Há 20 anos, o abastecimento de água de Nova York é garantido por produtores rurais que possuem propriedades a um raio de até 200 quilômetros de distância da cidade. Para garantir o abastecimento humano, o governo fez acordos com os produtores rurais e passou a pagá-los para que adotassem práticas menos intensivas, reflorestassem a área ou construíssem sistemas para armazenar estrume para não contaminar a água.
Como exemplo brasileiro, podemos citar município de Extrema (MG), na divisa com São Paulo. Desde 2007, a prefeitura aprovou uma Lei Municipal que remunera os agricultores com recursos do próprio caixa da cidade, onde 49 proprietários de terra recebem uma quantia/ano por práticas de conservação do solo e das matas, contribuindo para a manutenção das bacias hidrográficas do sistema Cantareira, responsável por grande parte do abastecimento da capital paulista.
Apesar dos investimentos do setor publico nesses dois exemplos citados, o TEEB sugere exatamente uma mudança de foco, mostrando que a manutenção de ecossistemas saudáveis é geralmente a opção menos onerosa do que os reparos e a recuperação do ambiente natural após o dano já causado. Ou seja, preservar é mais barato do que tentar consertar depois. Conhecer o capital natural das cidades e os serviços por ele proporcionados pode ajudar formuladores de políticas locais a solucionarem desafios em diferentes áreas, permitindo ajustar localmente as leis, modos de produção e criação novos incentivos.
O bem-estar da humanidade e da grande maioria das atividades econômicas depende de um ambiente natural saudável. Ampliar a compreensão a respeito dos benefícios proporcionados pela natureza por meio dos serviços ecossistêmicos se constitui hoje num grande desafio para o desenvolvimento sustentável. O relatório TEEB traz informações riquíssimas para que todos os setores da sociedade possam enxergar as maneiras diretas e indiretas de nossa dependência da natureza e, ao mesmo tempo, desenvolver estratégias e ações para o uso inteligente dos serviços ecossistêmicos, não só para garantir um futuro sustentável, mas para a solução problemas no presente, em especial, os problemas das grandes cidades.
Aqui no EcoD você pode acessar o Guia Rápido TEEB para Formuladores de Políticas Locais e Regionais. O relatório traz orientação, instruções e inspiração para formuladores de políticas locais/regionais que queiram incluir estes benefícios em suas políticas e reúne algumas experiências em serviços ecossistêmicos e políticas locais ao redor do mundo.
Isaac Edington
Diretor Presidente do Instituto EcoD, Criador e Publisher do Portal Ecodesenvolvimento.org
E-mail: isaac.edington@ecodesenvolvimento.org.br