“Água fluoretada não chega a 15% da população de São Paulo” – Agência USP

 

No estado de São Paulo, 15% da população (o equivalente a 6,2 milhões de habitantes) ainda não recebe água com flúor. A constatação é feita num estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP que utilizou dados de 2009 e contabilizou todos os 645 municípios do estado. “O percentual equivale à população da cidade do Rio de Janeiro”, estima a cirurgiã dentista Renata Ximenez Alves, autora do estudo. Ela lembra que que a adição de flúor no tratamento de águaé importante na redução de cáries e na dimunição de perda dentária nos adultos.

“A adição de flúor é também um recurso preventivo bastante importante pelo fato de levar a prevenção a todas as camadas sociais, diferentemente de outros recursos similares, como o creme dental, que apesar de ser eficaz, depende de recursos financeiros para sua aquisição”, comenta a dentista.

Da totalidade dos municípios do estado,  546 deles até hoje iniciaram o processo de fluoretação (adição de flúor) no tratamento de água. “O número é bom. Ele indica que o estado de São Paulo pode estar em posição de vanguarda em relação à media nacional”, avalia a autora, que aponta estimativas do Ministério da Saúde em 2007, segundo as quais cerca de 48% da população brasileira não teria acesso à água fluoretada.

Mas a autora ressalva que todos os municípios de São Paulo têm algum tipo de sistema de tratamento de água, apesar de nem todos adicionarem flúor. Em sua pesquisa, foi levantado que 6,5% dos municípios que recebem água tratada não recebem flúor. De acordo com ela, isso não deveria acontecer, uma vez que há lei federal, desde 1974, que determina que a fluoretação é obrigatória onde há tratamento de água.

As informações obtidas no trabalho vieram do Siságua, sistema de informação em qualidade da água do Sistema Único de Saúde (SUS), do Proágua, programa de vigilância da qualidade da água para consumo humano do governo do Estado de São Paulo, e de documentos oficiais e literatura científica publicada.

Histórico
A pesquisa fez parte da dissertação de mestrado de Renata, sob orientação do professor titular da FSP, Paulo Capel Narvai. O estudo levantou o histórico da fluoretação nos municípios de São Paulo desde 1956, data em que a primeira cidade do estado, Marília, teve adição de flúor no tratamento de água.

Até começo da década de 1980, por volta de 10% da população do estado recebia água com flúor. De 1980 a 1988, pulou para 80% da população. “Na década de 1980, houve um boom nos municípios com fluoretação, pois nesse período houve fortes investimentos financeiros federais. Além disso, somente em 1985 a cidade de São Paulo teve fluoretação”, explica a autora.

Outro dado chamativo se refere aos municípios que já interromperam a adição no tratamento. Até 1988, 473 municípios já tinham água fluoretada. Porém, em algum momento (1998, 2001, 2008 ou 2009), 35% deles interromperam a fluoretação. Renata diz que o maior motivo alegado pelas prefeituras e estações de tratamentos desses municípios são problemas operacionais, motivo que reflete no corte do recurso para contenção de despesas. De acordo com a dentista, isso contradiz a realidade, pois o processo é de baixo custo.

Para ela, os profissionais da área de saúde ainda têm o desafio de implantar e manter a fluoretação em todos municípios. “A fluoretação é uma medida de amplo benefício coletivo, como o saneamento básico. Já está cientificamente comprovado que ela reduz as cáries nas crianças e as perdas dentárias em adultos, reduzindo drasticamente a dor, a mutilação e a necessidade de próteses.” A pesquisadora exemplifica com dados do município de Piracicaba: em 25 anos de água com flúor, o município diminuiu em 79% as cáries em crianças de 12 anos de idade. “Falta conscientização dos benefícios alcançados com a medida e a responsabilidade legal e ética das autoridades em executá-la, assegurando a todos os cidadãos o exercício desse direito.”

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