“Em oito estações, mais fuligem no ar” – O Estado de S.Paulo

 

Medição da Cetesb aponta menos dias com ar ‘bom’ e mais com ar ‘regular’ por causa das partículas finas, que mais agridem o corpo

Eduardo Reina e Renato Machado – O Estado de S.Paulo

Medições da qualidade do ar feitas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) na capital paulista mostram o aumento do nível de poluição em todas as regiões onde há coleta de dados. As oito estações medidoras de partículas finas – poluente que mais agride o organismo das pessoas – mostram aumento na carga no ar em todos os cantos da cidade e queda dos índices de "bom" para "regular".

No período de 1.º de abril até 18 de outubro, Santana registrou 79 dias com ar considerado regular para material particulado inalável, originado nos escapamentos dos veículos. No mesmo período do ano passado, foram 48 dias com essa nota inferior. E na Mooca, na zona leste, o número de dias subiu de 23 para 46.

A região do Aeroporto de Congonhas, na zona sul, recebe influência do tráfego da Avenida dos Bandeirantes e dos aviões. Lá também houve aumento no número de dias em que a fuligem piorou a condição do ar. No período estudado neste ano foram registrados 51 dias com ar considerado ruim, contra 29 no mesmo período do ano passado.

Morador da Rua Alvorada, paralela à Avenida dos Bandeirantes, o músico Ubiracy Magalhães, de 26 anos, deixa sempre as janelas fechadas para que a sujeira e o barulho dos carros fiquem do lado de fora. Para abafar o som do trânsito pesado durante os ensaios de sua banda, ele costuma colocar cobertores nas janelas. "Mas a gente morre de calor."

Nem na distante e arborizada Parelheiros, na zona sul, ele ficaria livre da poluição. A estação registrou 87 dias com ar regular ante 75 do ano passado no período estudado. Uma das possíveis explicações para esse aumento é o Trecho Sul do Rodoanel, que recebeu grande parte dos caminhões que saíram da cidade.

As árvores também não aliviaram a situação do Parque do Ibirapuera: os equipamentos da Cetesb registraram 75 dias com ar regular neste ano contra apenas 9 de 2009.

Pinheiros, na zona oeste, registrou no ano passado 22 dias em 106 dias medidos com qualidade regular do ar. Neste ano, a Cetesb apontou apenas 13 dias, mas a medição não foi feita em todo o período. Na Avenida Paulista – cuja estação medidora é a de Cerqueira César -, os dias com qualidade regular passaram de 10 em 2009 para 33 neste ano.

Monóxido de carbono. Quando a medição é feita sobre monóxido de carbono, a história se repete. O CO é o principal gás emitido pelos motores. Em quase toda a cidade houve aumento desse poluente, segundo a Cetesb. As duas únicas estações que não registraram dias de qualidade regular foram Cerqueira César e em Parelheiros. Nas demais regiões houve aumento.

Segundo o Laboratório de Poluição da USP, as cidades têm três principais fontes de poluentes. O tráfego de veículos responde por até 80% da poluição de material particulado. O resto é poeira que sobe com a vida urbana – restos de asfalto e até bactérias – e material expelido por todo tipo de queima, de indústrias a fornos de pizza.

PARA LEMBRAR
Limites para qualidade do ar em discussão

Técnicos da Cetesb, da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores e da Secretaria Estadual de Saúde discutem desde meados do ano limites mais exigentes para controle da poluição – os atuais estão em vigor desde 1990. Hoje, para o ar ser considerado bom, as partículas em suspensão não podem ultrapassar 50 mg/m3. Pela proposta, o nível deve ser baixado para 25 mg/m3, conforme defende a Organização Mundial de Saúde. Esse novo padrão deve criar mais requisitos para obtenção de licenças ambientais e possibilitar medidas extremas – como ampliação do rodízio de veículos quando a poluição atingir índices críticos.

QUATRO PERGUNTAS PARA…

Carlos Komatsu, GERENTE DO DEPARTAMENTO DE
QUALIDADE AMBIENTAL DA CETESB

1. Como se explica o aumento da poluição?
Este é um ano atípico que estamos vivendo, com um período muito seco. E em 2009 choveu muito.

2. E não deveriam ser adotadas medidas para diminuir esse nível? Quando se foca na meteorologia, fica-se à mercê de tudo. Se tivéssemos um transporte público mais efetivo, não estaríamos passando por tantos problemas.

3. A Cetesb avalia a adoção de padrões mais rígidos de medição. O que vai mudar?
Com os novos níveis de medição, a tendência é que se tenha mais episódios de qualidade ruim do ar. Mas, se as novas medições não vierem acompanhadas de medidas efetivas para melhorar o transporte público, não vai adiantar. Precisa de ações concretas para evitar as ultrapassagens de índices.

4. As restrições à circulação de veículos pesados nas áreas centrais da capital ajudam a melhorar o ar?
Sim, evitar a circulação de veículos pesados melhora o ar.

Efeitos em São Paulo

4 mil pessoas
morrem por ano de doenças causadas ou agravadas pela poluição

15 mil mortes
foram evitadas na Região Metropolitana em dez anos do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores

1,3 ano de vida a menos para moradores se a nova fase do programa for adiada

 

Leia também: Primeiro passo para adotar padrão da OMS para poluição ocorre neste ano

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