“Militar vira ‘faz-tudo’ na administração Kassab” – Folha de S.Paulo

 

PMs fiscalizam de camelôs a táxis; 14 subprefeituras estão nas mãos de militares

Mais de 1.300 policiais atuam, por meio de uma parceria, para realizar o trabalho hoje feito por 700 fiscais municipais

EVANDRO SPINELLI
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

Fiscalização de camelôs, zeladoria de bairro, controle de táxis e motofretes, gestão de empresa pública e, se preciso, até fiscalização do Psiu.

Essas funções, antes exclusivas de funcionários civis na Prefeitura de São Paulo, vêm sendo transferidas cada dia mais para o controle de policiais militares na gestão Gilberto Kassab (DEM).
A militarização da administração Kassab começou em 2008, quando o coronel Rubens Casado foi nomeado subprefeito da Mooca para tentar moralizar uma região manchada por denúncia de corrupções de fiscais.

As suspeitas foram estancadas e, de lá para cá, Kassab passou outras 13 subprefeituras para oficiais da reserva da PM de São Paulo. Esse recorde foi registrado na semana passada, com a indicação do subprefeito de Aricanduva. No total, o município é dividido em 31 sub-regiões.

Essas indicações abriram caminho para prefeitura e PM fecharem um convênio chamado de "operação delegada". Por meio dessa parceria, mais de 2.500 policiais militares serão contratados até o final do ano para realizar trabalhos antes feitos pelos fiscais da prefeitura. Hoje, já atuam cerca de 1.300.

A prefeitura tem cerca de 700 fiscais para realizar todo o tipo de trabalho: da fiscalização de camelôs a de restaurantes e obras.

Os salários dos PMs são pagos pela prefeitura e os policiais fazem essa tarefa nos horários de folga. O principal foco é o combate ao comércio irregular. Por isso, em todas as regiões em que o comércio popular é mais forte, existem homens contratados pela "operação delegada" e um oficial da reserva no comando da subprefeitura.

A exceção é a Subprefeitura da Lapa (zona oeste). No restante, tudo está sob o controle dos militares, incluindo 25 de Março (Sé), José Paulino (Bom Retiro) e largos Treze (Santo Amaro) e da Concórdia (Brás).

A lista da militarização inclui também as áreas de trânsito e transporte.


REPERCUSSÃO

Para o deputado Major Olímpio (PDT), crítico de Kassab, essa parceria pode ser chamada de "casa grande e senzala". "Para os oficiais, as subprefeituras. Para os praças, nove horas debaixo de sol", disse.

José Vicente da Silva, ex-secretário nacional da Segurança Pública, diz que a utilização de oficiais da reserva é comum em Nova York e muito salutar para todos. "Eu só vejo com bom olhos", diz ele, coronel aposentado da PM.

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