No ritmo atual de construção, seriam necessários 41 anos para vencer déficit habitacional
Paulo Saldaña, Tiago Dantas – O Estado de S.Paulo
Um em cada dez habitantes do Estado de São Paulo não tem onde morar ou vive em área de risco. O déficit de habitação atingiu 1.217.550 unidades, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Habitação. Como uma moradia é dividida por quatro pessoas, em média, o número de paulistas sem-teto pode chegar a 4,8 milhões, o equivalente a 10% da população do Estado.
Seriam necessários 41 anos para que São Paulo acabasse com o problema da falta de moradia, levando em conta o número de prédios residenciais feitos pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) em quatro anos e sem considerar investimentos municipais nem avanço da população.
Entre janeiro de 2007, início da gestão José Serra/Alberto Goldman (PSDB), e outubro deste ano, a CDHU entregou 64.993 unidades. Mais 53.926 apartamentos estão em construção. Presidente da CDHU e secretário de Estado da Habitação, Lair Krähenbühl afirma que os investimentos do poder público devem privilegiar a Grande São Paulo nos próximos anos.
"A Região Metropolitana concentra 62% do déficit habitacional. São mais de 719 mil famílias sem casa. Mas isso não significa que temos de empregar 62% do orçamento aqui. O investimento tem de ser ainda maior. Primeiramente, há escassez de terreno. Depois, o terreno que encontramos, com todas os equipamentos públicos e de transporte, é muito caro", diz.
Uma possível solução da questão habitacional do Estado passaria, ainda, pela regularização de 2.683.655 imóveis considerados inadequados. Nessa categoria, entram favelas que precisam ser urbanizadas, uma realidade bem conhecida pela aposentada Luzia Silva, de 69 anos, que batalha há 24 anos por uma moradia.
"Comecei morando na Fazenda da Juta (zona leste). Depois, fui para uma ocupação do Alto Alegre (mesma região). Procurava financiamento, mas, com minha renda, nunca consegui nada", lembra a aposentada, que, hoje, está ocupando um prédio abandonado na Avenida Ipiranga, no centro, com mais 2 mil famílias.
O grupo, ligado à Frente de Luta por Moradia (FLM), que está ocupando outros três edifícios na região, pretende fazer uma passeata hoje à tarde para reivindicar que não sejam despejados. "O centro tem muitos prédios abandonados que podiam ser destinados à locação social. A classe média não quer mais morar no centro histórico. Mas os trabalhadores querem", opina Osmar Borges, coordenador geral da FLM.
Verticalização. Borges acredita que a locação social deveria ser incluída nas políticas de habitação, ao lado de investimentos pesados em moradia. A arquiteta e consultora Heloísa Proença, ex-secretária de Planejamento da Prefeitura de São Paulo, defende a verticalização dos novos empreendimentos da CDHU. "Não tem como dar conta do déficit sem verticalizar. Os terrenos são cada vez mais caros e mais raros", afirma.
A Secretaria de Estado da Habitação organizou oito reuniões com prefeitos do Estado para tratar do assunto. O resultado desses encontros, o Plano Estadual de Habitação, que vai orientar as políticas públicas dos próximos 13 anos, deverá ser lançado em dezembro.