Varejo e indústria começam a implementar sistemas de logística reversa para recolher lixo eletrônico e eletrodomésticos ao final de sua vida útil
Andrea Vialli – O Estado de S.Paulo
Três meses após a sanção presidencial da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que está em fase de regulamentação, o mercado já se movimenta para colocar em andamento a chamada logística reversa, que é o recolhimento de bens, como eletrodomésticos e eletrônicos, ao final de sua vida útil. Em todo o Brasil surgem iniciativas para ajudar o consumidor a descartar esse tipo de resíduo corretamente.
Um exemplo, no interior de São Paulo, é a rede de varejo Cybelar, que desde o início do mês passou a oferecer a seus clientes a possibilidade de "comprar" o descarte futuro dos produtos eletrônicos.
Ao adquirir uma TV, geladeira ou celular, o cliente da rede é informado de que pode comprar o futuro descarte do produto que está comprando ou do equipamento que está em casa. O serviço varia de R$ 6,90, no caso do descarte de um celular, e pode chegar a R$ 130 – a retirada de uma geladeira da casa do consumidor.
"A receptividade ao serviço tem sido surpreendentemente boa", afirma Ubirajara Pasquotto, diretor da Cybelar. O serviço começou a ser oferecido desde o início do mês e, desde então, 1 em cada 10 produtos está sendo vendido com o descarte programado. A maioria – 59,8% – das vendas foi para o descarte de celulares.
Segundo Pasquotto, o consumidor brasileiro está disposto a pagar pelo serviço, pois isso representa conveniência e uma consciência mais tranquila. "Há três anos buscávamos soluções para o descarte desse tipo de resíduo. A indústria ainda olha a logística reversa como um custo. Mas se isso não for feito, todos pagamos as consequências" diz.
Especialização. O caminho para assegurar ao consumidor um descarte ambientalmente correto das quinquilharias eletrônicas e das geladeiras velhas passa pela parceria com outra empresa, a Descarte Certo, especializada em gestão da coleta, manejo de resíduos e reciclagem dos componentes dos eletroeletrônicos. Por meio do site da empresa, tanto consumidores quanto empresas podem comprar o descarte dos equipamentos que já não são úteis.
"Criamos diferentes modelos de negócios. Qualquer pessoa pode se cadastrar no site e agendar a coleta dos aparelhos em sua casa", conta Lucio Di Domenico, fundador da Descarte Certo.
Além da retirada em domicílio, a empresa se responsabiliza pelas etapas seguintes – a desmontagem e reciclagem dos componentes, a cargo de empresas como a Oxil, de Paulínia (SP), especializada nesse tipo de serviço. Segundo Domenico, o processo é rigoroso e garante que nenhum resíduo vá parar no lugar errado.
Garantias. Independentemente da obrigatoriedade que será estabelecida pela Lei Nacional de Resíduos, o mercado já se mobiliza para oferecer a logística reversa porque percebeu que é uma maneira de oferecer um serviço ao consumidor. "Há 20 anos se comprava produtos sem garantia, hoje isso é impensável. Imaginei que seria impensável, no futuro próximo, vender produtos sem a garantia do descarte correto", conta Domenico.
Ele acredita que as redes varejistas – além da Cybelar, a Descarte Certo também vende o serviço de descarte programado a clientes do Carrefour – irão liderar o processo de fazer com que o lixo eletrônico volte à cadeia produtiva como uma matéria-prima: "Outras redes já nos procuraram e em breve o serviço estará disponível em mais lojas. Esse tipo de serviço será valorizado pelo consumidor."
Lina Pimentel, advogada especializada em direito ambiental do escritório Mattos Filho, acha mais provável que empresas se organizem em entidades para promover a gestão conjunta desses resíduos, diminuindo os custos do processo. "O que não é correto é que esse ônus seja repassado apenas ao consumidor", diz. Em São Paulo, afirma, a regulamentação da lei estadual de resíduos está caminhando de forma mais rápida e deve impor metas reais de reciclagem às indústrias.
ONDE DESCARTAR
Descarte Certo
No site www.descartecerto.com.br é possível dar destino aos eletroeletrônicos. O serviço inclui a retirada do equipamento em casa e custa entre R$ 6,90 e R$ 130.
E-lixo Maps
O projeto, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, permite visualizar os postos de coleta de lixo eletrônico em São Paulo. No site www.e-lixo. org, basta colocar o CEP e encontrar o local mais próximo para levar os aparelhos.
USP
Possui o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir). É preciso agendar a entrega pelo email consulta@usp.br.