Duas pessoas foram presas em ação de retirada de grupo da frente da Câmara Municipal; acampados acusam guardas de truculência
Rodrigo Burgarelli – O Estado de S.Paulo
Quatro dias após o prazo para sair do prédio do INSS, os cerca de 450 sem-teto que acampavam em uma praça na frente da Câmara Municipal foram retirados ontem do local por oficiais da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Os acampados acusam os guardas de truculência e de usar cassetetes e bombas de efeito moral. A Prefeitura diz que a ação foi organizada e contou com a "participação pacífica dos manifestantes".
"Houve muita truculência gratuita. Do nada, eles chegaram descendo o porrete", disse o coordenador-geral da Frente de Luta por Moradia (FLM), Osmar Borges. Cerca de dez acampados foram feridos com estilhaços de bomba e hematomas no rosto e foram socorridos, segundo os sem-teto. Crianças também teriam sofrido crises respiratórias por causa dos gases. Dois manifestantes foram presos. Dois guardas-civis também ficaram feridos no confronto. Duas viaturas da corporação foram danificadas com pedradas.
De acordo com Borges, a remoção foi ilegal, já que seria necessário um mandado de reintegração de posse expedido pela Justiça. Ele afirmou que os manifestantes gravaram uma fala do comandante da operação dizendo que a remoção foi feita a mando do prefeito Gilberto Kassab. "Vamos enviar o vídeo para a Anistia Internacional", afirmou.
A remoção começou por volta das 17h, quando chovia bastante. Eles estavam acampados no local desde quinta-feira, quando foi cumprida a reintegração de posse determinada pela Justiça do prédio na Avenida 9 de Julho – ele e outros três haviam sido ocupados por sem-teto da FLM em 4 de outubro. Segundo líderes do movimento, o objetivo do acampamento era pressionar o governo federal a acelerar o projeto de transformar o edifício, abandonado há quase 20 anos, em moradias populares.
A Prefeitura, no entanto, não concordou com a ocupação na praça e, por isso, realizou a remoção na tarde de ontem.
Justificativa. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana, por sua vez, afirmou que cumpriu sua função de contribuir para evitar que as pessoas, sobretudo crianças e idosos, ficassem em situação de risco.
O local onde estavam acampados, de acordo com a pasta, era "impróprio para sua saúde e integridade física". A secretaria diz que os guardas fizeram orientação e encaminhamento para atendimento especializado.
A nota também informa que a ação de remoção das famílias só foi empreendida após consultas às Secretarias de Assistência Social e Habitação, que conversaram com os acampados, e com as Secretarias das Subprefeituras e de Governo.
Questionada pela reportagem sobre o que teria causado o conflito, a Prefeitura não respondeu. / COLABOROU CAMILLA HADDAD