Apesar de CO2 ser o mais presente na atmosfera, aumento na liberação do metano preocupa mais; resultado é aquecimento
Jamil Chade CORRESPONDENTE / GENEBRA – O Estado de S.Paulo
Nem a queda das atividades industriais diante da pior recessão econômica em 70 anos nem os inúmeros discursos de líderes prometendo fazer algo pelo clima frearam a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo dados da ONU, nunca na história a concentração de gases como o CO2 e metano foi tão alta como em 2009, em um alerta aos governos de todo o mundo de que a luta contra as mudanças climáticas pode ser muito mais difícil e custosa do que muitos imaginam.
Os dados foram apresentados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço técnico da ONU, e revelou que a concentração é a maior desde a Era Pré-Industrial. Segundo os cientistas, atividade industrial, desmatamento, transportes e agricultura são os principais responsáveis pelas emissões. A avaliação é de que um aumento na quantidade de gás na atmosfera eleva a radiação, incrementando as temperaturas no solo e alterando o clima.
A conta, segundo os técnicos, é bem mais simples que a apresentada costumeiramente por políticos. Quanto maior a concentração de gases-estufa, mais o calor fica preso na atmosfera.
Segundo o vice-secretário-geral da OMM, Jeremiah Lengoasa, os principais gases que tiveram aumento foram CO2, metano e óxido nitroso (N2O). Os números são publicados uma semana antes do início da Conferência do Clima em Cancún, onde países prometem travar uma batalha para definir um acordo de redução de emissões e de financiamento de medidas de mitigação. Longe de um acordo, a reunião corre o risco de repetir o fracasso da conferência anterior, em Copenhague.
Mas as informações publicadas ontem revelam que os esforços de governos para transformar o padrão ecológico de suas economias, reduzir emissões ou promover tecnologias limpas nem têm impacto importante na atmosfera. Segundo os novos dados, a concentração de gases-estufa aumentou em 1% em 2009 (mais informações nesta página).
Nos últimos 20 anos, a elevação foi de 27,5%, uma taxa que revela que o problema tem se agravado nas últimas décadas. Segundo a ONU, a concentração do CO2, por exemplo, aumentou em 38% desde o ano de 1750.
A entidade admite que a taxa de crescimento de CO2 e N2O foi inferior à que havia sido registrada em 2009, provavelmente por conta da crise econômica, que reduziu as atividades industriais. Mas a ONU estima que essa queda tenha apenas um impacto marginal na atmosfera. Além disso, a concentração de hoje não é apenas resultado das emissões nos últimos meses.
Metano. Apesar de o CO2 ser o gás mais presente na concentração dos gases-estufa, com 63% do total, é o metano que mais preocupa. Desde 1750, a alta na concentração desse gás na atmosfera é de 158%. Preso nas calotas polares, o metano começa a se desprender pelo derretimento do Ártico, causado pelo aquecimento global. Quanto mais esse gás é liberado, maior a chance de o aquecimento aumentar, assim como a velocidade no derretimento das calotas polares.
"Sem uma ação concertada no nível global, não haverá maneira de frear essa concentração", alertou Lengoasa.
Piora acentuada
386,8
partes por milhão (ppm) foi a concentração de CO2 registrada em 2009 – 1,6 a mais que em 2008. Estima-se que, na Era Pré-Industrial, a média de concentração desse gás na atmosfera era de cerca de 280 ppm.
63%
é a parte que cabe ao C02 na concentração dos gases-estufa.
100
anos é o tempo que o C02 pode demorar para ser eliminado.