Prefeito tenta evitar que disputa pela presidência da Câmara divida base

 

Kassab se reúne com o presidente da Casa e com os dois candidatos para apaziguar ânimos. Centrão, porém, continua a derrubar sessões e impedir votações    

Airton Goes airton@isps.org.br

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), se reuniu com o presidente da Câmara Municipal, Antonio Carlos Rodrigues (PR), e com os dois candidatos à presidência da Casa, José Police Neto (PSDB) e Milton Leite (DEM), para tentar evitar que a acirrada disputa entre os dois grupos continue a provocar atritos na relação entre o Executivo e o Legislativo e, principalmente, que o problema se estenda após a eleição, marcada para o dia 15 de dezembro. A conversa realizada na manhã desta quarta-feira (24/11), porém, parece ainda não ter dado resultado, pois à tarde integrantes do Centrão – bloco político formado por Leite e outros 15 vereadores – e do PT voltaram a derrubar a sessão, impedindo a votação de qualquer projeto. Na pauta estavam quatro propostas da prefeitura.

Para Kassab, o pior que pode ocorrer na eleição da Mesa Diretora do Legislativo paulistano é haver uma disputa apertada, em número de votos, e um dos grupos sair do processo eleitoral rompido com o governo municipal. “Ficaria muito difícil para ele aprovar seus projetos na Casa”, avalia um vereador que prefere não ser identificado. Daí a tentativa do prefeito de apaziguar os ânimos e, se possível, viabilizar um acordo entre o Centrão – que, embora se defina como “bloco político independente”, tem sido fundamental para que o Executivo aprove alguns de seus projetos – e o grupo que apóia a candidatura do vereador Police Neto. Caso consiga isso, o PT ficaria isolado no processo.

Na primeira declaração de Milton Leite sobre o encontro ficou a impressão de que os participantes tinham chegado a um entendimento. “O que eu posso dizer a vocês [jornalistas] é que não haverá disputa [na eleição para a presidência da Câmara]”, afirmou rapidamente o parlamentar, fugindo de outras perguntas e sem explicar o significado de sua frase enigmática.

Outros integrantes do Centrão, porém, continuaram ao longo do dia fazendo críticas a Kassab. “A interferência do prefeito na disputa eleitoral do Legislativo é uma afronta”, denunciou Aurélio Miguel (PR), que acrescentou: “Ele [Kassab] pode dizer que gostaria que um determinado candidato ganhasse, mas não pode trabalhar para uma candidatura”.

Miguel é um dos expoentes do bloco político e tem ótimo relacionamento com o atual presidente da Casa. Seu nome é sempre citado por aqueles que acreditam na possibilidade de surgir ainda uma terceira candidatura antes da eleição.

Outro vereador do mesmo grupo bastante irritado com as recentes articulações e declarações do prefeito é Adilson Amadeu (PTB). “Nós vamos dar um ‘presente’ para ele no dia 15”, prometeu. O “presente” seria a chapa formada pelo Centrão e o PT vencer a eleição para a Mesa Diretora da Câmara.

Embora seja do mesmo partido de Milton Leite, o Democratas, Kassab declarou apoio ao tucano José Police Neto, que é líder governo na Câmara Municipal desde o início de sua gestão. Recentemente, ele se reuniu com lideranças estaduais do PCdoB, PDT e PSB, na tentativa de formar uma nova base política que viabilizaria sua candidatura a governador em 2012. O PCdoB, que sempre foi um aliado tradicional do PT, já declarou que seus dois vereadores votarão em Police Neto. Para completar, o prefeito tem sinalizado que pretende deixar o DEM em direção ao PMDB.

Ao relatar o encontro com o prefeito, Police Neto economizou nas palavras. “Foi uma boa conversa, em que ele [Kassab] reforçou a importância de mantermos um bom diálogo e solicitou responsabilidade [aos dois candidatos] na construção deste diálogo.” Questionado se houve algum pedido para que ele ou o outro candidato retirasse a candidatura, tendo em vista a declaração de Milton Leite, de que “não haverá disputa”, o vereador do PSDB negou. “Uma relação republicana não comporta este tipo de pedido.”

Sobre a possibilidade de desistir da disputa, o tucano argumentou. “A candidatura não é minha é de um grupo de parlamentares e não compete só ao Neto decidir sobre isso”.

A conversa entre o prefeito e os candidatos não teve efeito prático no plenário da Casa, pelo menos, por enquanto. Mantendo a mesma estratégia do dia anterior (23/11), integrantes do Centrão e do PT voltaram a derrubar as sessões ordinária e extraordinária, solicitando verificação de quórum logo no início dos trabalhos.

Sem contar com a presença de 19 vereadores registrada no painel eletrônico, as sessões foram encerradas e nenhum dos 20 projetos de lei que estavam na pauta pôde ser debatido ou votado. Entre as propostas havia quatro de autoria do prefeito, inclusive, a que autoriza a prefeitura a celebrar contratos de concessão de publicidade em relógios digitais de rua e abrigos de paradas de ônibus (PL 47/10).

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