Já existe um conjunto de estudos e instrumentos que permitem planejar ações preventivas e de adaptação frente aos impactos ambientais e sociais das mudanças climáticas, além de marcos regulatórios já aprovados ou em aprovação em todos os níveis de poder. “Tem-se agora que pressionar os governos para que políticas e ações concretas sejam implementadas, no sentido de reduzir os impactos e riscos das mudanças climáticas nas cidades”. A conclusão é de Elisabeth Grimberg coordenadora de Ambiente Urbano do Instituto Pólis, ao avaliar os desafios após o Seminário Mudanças Climáticas em Áreas Urbanas: vulnerabilidades, impactos e adaptação, realizado no Instituto Pólis nos dias 23 e 24 de novembro.
Pesquisadores de diversas áreas participaram do evento. O arquiteto urbanista do Instituto Pólis, Kazuo Nakano, criticou o modo como a urbanização se dá no país impulsionada, predominantemente, pelas forças do mercado. “A vulnerabilidade nas cidades está diretamente ligada à nossa forma de urbanização”, afirma Nakano. Sem ter acesso à terra urbanizada e moradia adequada, boa parte da população procura o mercado informal. Por meio deste, terras não urbanizadas são ocupadas por pessoas que ficam expostas a diversos riscos. Para Nakano, é fundamental que se torne possível o acesso a empreendimentos imobiliários para os grupos que não tem poder de consumo suficiente para o acesso à terra urbanizada.
Nakano também chamou a atenção para os grandes projetos de intervenção urbana que estão em fase de discussão nas grandes cidades brasileiras. “Esses projetos estão sendo propostos sempre na lógica de criar oportunidades para o mercado imobiliário, em vez de criar oportunidades para a efetivação de direitos sociais com ampliação de alternativas de adequação dos espaços a essas ocorrências climáticas”, diz Nakano.
O professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São falou sobre os efeitos das mudanças climáticas na saúde humana e a falta de políticas integradas para protegê-la. “Os órgãos ambientais que legislam sobre a qualidade da água, do ar e do solo entendem pouco de saúde, e, por sua vez, as órgãos ligados à saúde não incluem a questão ambiental como pertencente ao campo da saúde”, afirmou Saldiva.
O professor também criticou o fato de que as mortes causadas por fatores ambientais não sejam tratadas como um problema de saúde pública. “Estima-se que 4 mil pessoas morrem a cada ano em São Paulo devido a doenças causadas pela poluição do ar, o que representa mais do que as mortes por AIDS e tuberculose juntas”, disse Saldiva. Leia também o documento “Mudança Climatica e Saúde”
Outro tema abordado pela arquiteta e urbanista Marussia Whately foi a água e sua relação com a adaptação às mudanças climáticas. Devido à expectativa do aumento da intensidade das chuvas em cidades como São Paulo, a pesquisadora falou sobre a importância de promover uma gestão dos recursos hídricos que esteja integrada a outras políticas. “A questão da água nas cidades pode ser um motor no caso do Brasil para pensar uma política de habitação diferenciada”.
O coordenador adjunto do Vitae Civilis Rubens Born falou sobre as dificuldades que envolvem as negociações internacionais das Conferências das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima. “As polêmicas giram em torno da definição de adaptação, de quais países devem se adaptar, quem deve apoiar aqueles que têm que se adaptar e quem paga a conta”, afirmou Born.